sábado, 13 de dezembro de 2008

Só pra atualizar vocês, uma homenagem a Zé Reco e Zequinha, momento Macunaíma

O semi-negão sumiu no mundo sem me avisar. Também, passei o dia inteiro na rua, ralando. Outro livro. Bilíngüe. Foi mal, aí.

Por partes:

1) Santa Catarina é bem legal, a despeito da chuva que começou a cair agora, à noite. Certa tensão no ar.

2) Comi hoje o melhor palmito do mundo, da região, uma coisa dos deuses, de comer rezando.

3) Também tive hoje uma absurda experiência quase antropofágica.

Serei didática.

Fui criada com dois marrecos, Zé Reco e Zequinha, dois machos, meio gays. Uma vez, peguei um em cima do outro, numa ação sobre a qual não tinha registro na minha cabecinha ainda sã, acionei minha mãe, que fez que não era com ela e mandou o bom e velho "não sei o que é, minha filha". E, num espetacular momento Sigmundo, batizei de Zequinha justamente o que era subjugado por Zé Reco, com direito a bicada na cabeça durante o ato.

Fato é que, quando tinha lá pelos meus cinco anos, a Sendas (pois é, sempre a porra da Sendas) dava pros clientes uns filhotinhos de marreco, num saquinho pardo com furos, pro coitado respirar até chegar em casa - o bicho era o símbolo deles, vá entender. Ganhei um, que morreu dias depois, deprimi. Meu pai, sensibilizado, foi numa loja de bicho, que hoje é pet store, comprou dois e aplacou minha dor. Ele só não sabia que os dois não morreriam nem tão cedo. Mesmo.

Aí, cresci, virei universitária de jornalismo, virei estagiária de O FLUMINENSE, jornal de Niterói, minha terra, os bichos duraram uns 20 anos - um, 19; o outro, 20 e poucos. Quando o último morreu, cheguei às lágrimas no jornal. "O que foi, cara?" "Meu marreco morreu", respondi, absurdada, pouco depois de ter enterrado o pobre, com minha mãe, no quintal lá de casa. Silêncio na redação. Uma gente legal, na época, preferiu não contrariar a jovem louca.

Também passei toda a minha infância brigando com o mundo, que chamava os bichos de "pato". "Não é pato, é marreco", insisti mais vezes do que merecia. Fora um tio meu que, todo domingo em que nos visitava, jurava que ia almoçar um deles no próximo fim de semana, o que só servia pra piorar meu existencialismo precoce. Ficava puta: prometer comer irmão meu (assim, literalmente) eu achava uma sacanagem atroz.

Também me emputecia o fato de ninguém saber a diferença entre Zé Reco e Zequinha, coisa que eu achava super-óbvia. Zé Reco se impunha e enrabava Zequinha, o que nunca tive coragem de explicar pra ninguém, até porque não entendia direito. Só sabia que alguém mandava em alguém ali no cercadinho deles no quintal da minha casa em Niterói.

Pois é, hoje, super-desprendida, pela primeira vez na vida, comi marreco, com um recheio que mistura carne moída do bicho, mais os miúdos do pobre, receita alemã típica por aqui. Até achei que era um grande passo psicanalítico pra superar trauminhas de infância, e a carne é super-saborosa, mesmo, melhor que a de pato (começo a compreender meu tio). Mas fiquei, meio assim, lembrando daquela cena do Atração Fatal, em que a louca da amante cozinha o coelhinho da filha do amado num panelão. E o recheio só desceu - eu, almoçando em público - disfarçado pelo que tinha mais no prato, pra eu tentar esquecer do gosto da carne de prováveis parentes dos finados.

Ah, sei lá, deu vontade de contar. Cama já.

4 comentários:

Anônimo disse...

você foi corajosa. eu não comeria nem morta!!!!!!!!!
pode se dizer que você passou no teste de civilidade e pragmatismo social!!!!
quase uma lady!!!!!
mirtes

ROZANE MONTEIRO disse...

fina pra car... desisti a tempo! viu? tô treinando pra quarta. ai.

Anônimo disse...

Rozane, você deveria nos deliciar mais vezes com textos como este. Beijinho

ROZANE MONTEIRO disse...

brigada, anônimo. vou , sim, pode ter certeza.