Vivo enchenco o raio do saco de vocês aqui, mencionando certo alemão. Só agora me dei conta de que nunca, na verdade, contei a história direito. Portanto, ladies and gentlemen, aqui vai a saga de 17 anos.
Conheci o fofo em 92, quando o mesmo veio cobrir a Rio Eco 92, aquele evento que reuniu um milhão de chefes de Estado aqui no Rio pra salvar o planeta. Foi também quando o Marcello Alencar inventou a Linha Vermelha pra poupar os visitantes da Brasil. Ah, coitado.
Na verdade, eu conheci meu colega alemão em Curitiba: o Lerner, na época, convidou toda a imprensa credenciada pra Rio Eco 92 pra conhecer a cidade, num evento preparatório pra grande conferência. Não me lembro mais, exatamente, do instante em que o conheci. Fato é que nos conhecemos e grudamos um no outro. Ele é engraçado demais, editor de meio ambiente do jornal dele, na época. Eu era a mais fluente em inglês do grupo. Viramos amigos de infância. Também beijamos na boca. E só. Não dei por puro charminho. Sabia que o reencontraria aqui no Rio, logo depois do evento em Curitiba. Aqui no Rio, dei, claro. E gamei, claro.
Gamei tanto que, pouco tempo depois, uns dois meses depois, me mandei pra Berlim, terra dele, o que foi a minha primeira viagem pra fora do Brasil. Mais ou menos esperta, decidi rodar a Europa de trem e, só no fim da viagem, aportar lá. Achava que, se algo desse errado, não ia me atrapalhar o resto da viagem.
Um milhão de marcos alemães pra quem adivinhar o que aconteceu. Claro que deu tudo errado. Fui pra lá, cheguei, foi tudo lindo. Até o último dia, quando soube que ele tava de viagem marcada com uma moça pra Polônia. A cena era eu, puta, surpresa, com ele pedindo mil desculpas, eu gritando todos os palavrões que sabia em inglês por não ter sido informada, numa madrugada chuvosa em Berlim, frio da porra, a moça no carro, acelerando, também puta da vida, percebendo o que se passava. Fui sofrer na Bélgica, e, de lá, voltei ao Brasil. Acabei recebendo um telegrama (não rolava e-mail na época) com um pedido de desculpas. Dã.
Vou tentar resumir o babado.
Os anos passaram. Ganhei uma bolsa nos Estados Unidos, o que foi parar no site da universidade que deu a tal da bolsa. Ele me achou no Google (pois é, ao que parece, ele me catava no Google). Fez contato. Voltamos a nos falar.
Fui para Praga. Aí, eu avisei que tava indo de mala e cuia. Nos reencontramos. E tivemos a mãe de todas as conversas num típico boteco tcheco. Inesquecível. Ele, no fim das contas, se casou com a moça da viagem pra Polônia. O casamento dele foi pro sal e virou um casa-separa-casa-separa sem dó. O bicho virou jornalista famosérrimo lá na terra dele, infeliz que só. Mas ainda engraçadíssimo, insanamente capaz de rir da própria miséria. Rozaníssimo. Temos quase a mesma idade.
Um ano em Praga, o bicho virou o personagem masculino da minha ópera bufa no Leste Europeu. Com direito a caminhada na chuva e a mico num café tcheco: ele teve a capacidade de dar uma banda e destruir uma persiana da janelinha do lugar enquanto a gente tomava café e fazer mais estrago ainda ao tentar consertar, indiferente aos apelos da garçonete apavorada: "It's all right, sir, it's all right", tentando se livrar de nós dois. Não, eu não sei como acabou: a certa altura, eu desisti dele, paguei o café e fui fumar do lado de fora, pra quase matá-lo de raiva, depois, por não conseguir parar de rir da cena patética.
Ah, lembrei. Quando cheguei em Berlim, lá atrás, estávamos na rua, e ele achou que seria superromântico me pegar no colo. Pegou, só que se desequilibrou (eu era magra, porra), caímos os dois, e eu acabei com um hematoma na coxa, o joelho ralado e a meia fina rasgada.
Também falei com meu fofo germânico, por telefone, quando fui a Auschwitz, passada com o que me causou a visita ao campo. Ele entubou, me deu colinho a distância e me fez lembrar da dor que sente por ter nascido num país que inventou a porra do nazismo. Morre de culpa. Fica puto. Baba de ódio do tal do Adolf. Primeiros lugares que eu visitei com ele em Berlim? O cemitério de judeus e a igreja que tomou bomba e perdeu uma torre na derrubada de Hitler - eles mantêm a torre semi-destruída até hoje, ou, pelo menos, até a época em que eu estive lá. "Por que cê me trouxe aqui, cara?". "Pra você saber que a gente não quer nunca mais esquecer o que aconteceu." Fiquei muda e gamei de vez.
Ainda na visita a Berlim, errei na pronúncia da estação de trem aonde chegaria. O bichinho foi pro outro lado da cidade. Já sabendo que tinha feito merda, liguei pra casa dele pra tentar contato. O amigo polonês, com quem ele dividia o apartamento, atendeu e fez a ponte quando ele próprio ligou pra saber se eu tinha dado notícia. Acabou me achando, com uma rosa vermelha na mão e sorriso de filme cult europeu.
Foi também em Berlim que conheci o tal do "gyro", aquele sanduíche com carne que chegou a bater aqui, apelidado de "churrasquinho grego" - aquele em que a carne fica num espeto vertical, enorme, elétrico, girando o tempo todo. Ele morava num bairro turco. Na Grécia, séculos depois, perguntei se aquela merda era grega ou turca. Resposta do meu interlocutor: "Eles dizem que é turco, a gente diz que é grego." Foi também em Berlim que vi a brasileirada, num bloco, pedindo o impeachment do Collor. Jamais me esqueço disso: o fofo trabalhando, eu vagando pela cidade, quando ouvi um batuque de samba.
Ah, pra finalizar, foi também lá que vi o Wim Wenders, filmando, numa grua, uns caras empoleirados no Portão de Brandemburgo, a continuação de "Asas do Desejo", o "Tão Longe, Tão Perto". Não acreditei. Mirei a câmera semi-profissional pro tal do Portão, vi que tinha uma galera de preto lá em cima. Lembrei imediatamente do "Asas do Desejo" e me virei. Dei de cara com o próprio e com a parafernália de filmagem. Nessa parte do filme, tem uma panorâmica. Nunca me achei, é fato. Mas só eu sei que devo estar lá. Claro que as fotos que tirei não existem porque minha máquina tava com o fotômetro bichado (não, não era digital). No mesmo dia, comprei um relógio de bolso russo pro meu pai, que os camelôs vendiam na faixa de asfalto nova que cobria o que um dia foi o muro.
Fui pro Irã. Voo Rio-Frankfurt-Rio - tive nada com isso, foi decisão do jornal. Claro que avisei e disse que precisava desesperadamente de uma cerveja, já que tinha passado duas semanas infernais, vigiada pela CIA do fofo do Ahmadinejad, na terra em que álcool é tratado como droga e é proibido. Fui pegá-lo na estação de trem, o manezinho tinha uma cerveja na mão pra me dar. Mas acabou não sendo o fim de semana dos sonhos. Sei lá por que. Acho que, no fundo, no fundo, eu não tava muito afim e só aproveitei a viagem. Trocamos e-mails pra tentar consertar a cagada. Consertamos. Nunca mais nos vimos, mas trocamos e-mails e nos falamos por telefone vez ou outra.
No lançamento do livro, ele vinha. Mas se enrolou. Celebridade, se meteu num evento que incluía entrevista coletiva dele com a imprensa da terra - pois é, ele dá entrevista coletiva e, de vez em quando, dá pinta, como entrevistado, na CNN. Noves fora, porra nenhuma, a gente deve escrever um livro juntos sobre a nossa própria saga. Ele tá animado. Devo misturar com o relato de um ano meu no Leste Europeu. Ou não. Não tô bem certa ainda. Acho que, talvez, sejam duas coisas diferentes. Praga, pra mim, é sagrado. Não sei se cabe um personagem masculino. Por outro lado, um personagem com as características dele só caberia, na minha história, no tempo que passei em Praga. Enfim, não importa. As crônicas de Praga são só pro ano que vem. Tem tempo pra decidir.
O nome não vou poder dar porque o gênio da comunicação germânica tem amigos portugueses, que eu sei que ele já acionou pra espionar o blog. Também continua dando Google em mim, que eu sei também. O que sinto por ele? Não faço a mais pálida ideia. É só um daqueles personagens que entram e saem da nossa biografia vez ou outra. O que me irrita é que a gente meio que lê pensamento um do outro. Um horror.
É isso. Resumindo, é isso.
terça-feira, 3 de março de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
claro que ele está com a razão!!!!!
claro que a saga de vocês dá um livro e tanto!!!!!!!
e ele é um fofo!!!!!!!!
agora, cá entre nós,não consigo me lembrar de você magra.... (rs)
e o leadão: quando que este thor chega ao brasil?
sacanagem!!!!!!! eu já fui goxtosa, porra!!! mas, enfim, vou relevar essa maldade sua. quanto ao "fofo", deve vir pra Páscoa. não sei. tá vendo ainda. claro que pode ser outro tiro n'água. vamu ver.
agora, que razão, cara pálida? a ideia do livro foi minha, ô, gênio.
"thor" é muito bão.
Postar um comentário