A história, quem ia contar na mesa da Adega do Largo do Machado era uma amiga minha, "comparsa" do jovem cachorro há anos. A alcunha foi dada pelo próprio fofo, o que, claro, faz minha amiga babar de indignação; uma indignação inócua, naturalmente. Mas, a certa altura, resolvemos que o melhor seria, mesmo, o próprio contar o babado, ocorrido quando o doce trastezinho não tinha nem 30 anos, se não me engano, com riqueza de detalhes, cabisbaixo, olhar do gato do Shrek II, dublado pelo Banderas, na fuça, assustadoramente sedutor.
Foi mais ou menos assim a saga do moço de, hoje, seus 30 e poucos anos:
- Então, a gente já tinha até marcado data pra casar, assinar papel e tudo. Aí, de repente, eu me vi na cama dela, deitadão, só de cueca, e comecei a pensar "o que que eu tô fazendo aqui? Aí, esperei ela dormir, fui no closet, e peguei uma pilha de camisas, umas roupas. Era um apezinho superlegal, a cama ficava numa espécie de mezzanino... Pois é, aí, quando eu tava descendo a escada, ela acordou e perguntou "gatinho, o que você tá fazendo?". Respondi, cara, "meu amor, tô indo nessa".
A partir daí, eu assumo a narrativa, pra resumir. A moça convenceu o fofo a voltar, dormir e pensar no assunto, com calma, no dia seguinte. Ele concordou e voltou. E repetiu a cena, depois que a pobre, finalmente, dormiu de novo. A moça acordou de novo, interrompendo o plano de fuga do ser, que, mais uma vez, voltou pra cama. E, um milhão de coroas tchecas pra quem adivinhar o que aconteceu: pela terceira vez, o jovem cachorro tentou fugir e, claro, foi novamente flagrado. Só que, dessa vez, por uma fêmea babando de ódio, transtornada. Volto ao relato do protagonista:
- Cara, ela tava com os olhos arregalados, ficou maior que eu, arrancou as roupas da minha mão e jogou tudo pela janela. Absurdo, cara, absurdo. Aí, eu olhei pra ela e peguei a primeira coisa que vi e também joguei pela janela. Aí, ela ficou furiosa só por-que eu joguei pela janela um microsystenzinho dela. Só por isso, ela pegou meu laptop, cara, meu laptop. Eu gritava "o laptop, não, o laptop, nãããããão". Mas não teve jeito, ela conseguiu tirar da minha mão e acertou direitinho o buraco da janela.
Volto a resumir. A essa altura, a pancadaria continuou, e já tinha vidro quebrado no sofá (!?!), sobre o qual nosso herói acabou caindo sentado. De cueca, figurino com o qual tentou sair em desabalada carreira pela porta. Trancada. A moça não queria vê-lo pintado a ouro, mas também cismou de não querer deixar a anta sair de casa. Corre pra lá, corre pra cá, nosso Macunaíma conseguiu por a porta, literalmente, abaixo e correr pra portaria pra tentar alcançar a bicicleta e fugir pra casa da mãe, num bairro próximo ao local do crime. De novo, nosso herói:
- Cara, eu cheguei na portaria, o porteiro já tava enlouquecido, atendendo aos vizinhos, naquela central antiguinha de interfone, todo mundo perguntando o que tava acontecendo. O cara perguntou "meu filho, você tá bem?" Falei "tô, sim, cara, só quero minha bicicleta".
Assim foi feito. Foi de cueca, traseiro sangrando, saindo do prédio, com a bike, quando viu "uns três ou quatro mendigos" com as roupas dele na mão, medindo no corpo, pra ver se servia. Diz ele que ainda teve forças pra arrancar tudo da mão dos caras e sair, catando cavaco, pedalando, segundos antes do gran finale. Depois que conseguiu sair, ele jura que ainda choveu um barrilzinho de madeira - "o barrilzinho que eu usava pra guardar cachaça, cara" -, varejado pela janela pela outrora doce namorada, que acertou o guidão da bicicleta e empenou o veículo utilizado na desabalada carreira pra casa da mãe. No dia seguinte, foram mais de cinco pontos no traseiro, se não me falha a memória.
Nunca mais se viram, certo? Claro que já se viram e claro que a vontade que dá é, como diz minha mãezinha mineira, "dar com o gato morto nos dois até o gato miar".
domingo, 31 de maio de 2009
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8 comentários:
a-mei a história do covarde-canalha, pena que o barril acertou o guidon...
não é sensacional? o sujeito é guerreiro. e não tem nem 40 anos!!!
este realmente sera O canalha quando chegar aos 50...
de barrar o muso...
Pobre cachaça que não tinha nada a ver com a história... Mas sair de fininho mata né?! Esses sujeitos não falam nada? Querem sair assim, sem nem dar uma explicaçãozinha? E três vezes? Fantástica cara de pau! Parece até que tem medo da gente, nós, mulheres, tão indefesas mocinhas... Rs
boa, lyana, perder o laptop, vá lá. perder o barrilzinho de cachaça é prova absoluta de que o jovem macho não tinha prioridades na vida.
quanto às três vezes, não tenho nem palavras. até a segunda cagada, eu costumo perdoar. três é número cabalístico, cara. é inacreditável.
tadinho, cara, tadinho. pobre ser, vítima da outrora doce moça.
Adorei a guerreira mas como nem tudo é perfeito continuaram se vendo....
Vida dura
Bjs
Pat
eu nem sei em que que deu a história dos dois mais. aliás, ando tentando convencer o fofo a vir aqui dar a versão dele, mas o pateta se recusa.
Adorei a história... e mais ainda seu blog. parabéns. beijos
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