quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Descarrego no Largo ou tô-tipo-assim-muito-legal-de-me-fuder

Intão, fiz uma rearrumação na sala; arrastei móvel; desmontei, sozinha, com chave de fenda e tudo, uma mesa de computador que só serve pra entulhar e que meu pai vai levar pra casa dele; finalmente entubei que meu computador de mesa pifou (tava em estado de negação total) e parei de tentar fazer o fofo funcionar. Meu pai vai levar embora o tal também. Seu Monteiro quer virar interneteiro agora, que ficou viúvo, o que é uma bênção, já que, como sabemos, basta uma Monteiro pirando.

O computador, o que vou fazer é despachar pra ele, com um pen drive, pra, se não tiver que formatar, o cara que for mexer fazer backup. Ele vem de ônibus amanhã, mas volta com meu primo de carro, no domingo, justamente pra carregar daqui a tralha que tá sobrando. Se tiver que formatar também, foda-se, tô muito legal de coisa velha aqui em casa. A única coisa que está no computador e que realmente importa é o meu livro com as crônicas de Praga, que tenho aqui no laptop e em dois pen drives novos e no Gmail.

Só tô com dó de perder um monte de fotos de Praga, do ano que morei lá, que só tenho nele mesmo - meus outros dois pen drives, que tinham as tais fotos, foram roubados com a bolsa, lembram? Mas, na boa, se perder as fotos, fica a minha memória. E posso sempre voltar a Praga. As do Irã, pra onde não pretendo voltar nesta encarnação, eu também tenho aqui no laptop e nos dois pen drives novos. O que vou fazer é comprar um outro laptop, mais muderno que este, pra ficar um aqui e outro no escritório no Centro. Até porque, se eu ficar com um computador só, se o bicho der pau, fudeu. Minha vida depende das máquinas. Aqui, no cafofo, só cabe um laptop e pronto. Custei a admitir isso, eu sei.

Também já ando bem namorando certo Smartphone que certa operadora de celular "dá". Se eu fechar o pacote, fico escrava dos fofos por um ano, arapuca total. Eles "dão" o aparelho, mas você "paga" o tal por um ano, escravidão total. Por outro lado, o bicho me deixaria conectada o tempo inteiro, que é algo de que preciso agora. Enfim, preciso ver se vale a pena trocar o plano da operadora e tal. Depende da arrumação do meu quarto, onde estão empilhadas todas as contas do mundo. E tem sempre a Nextel, com o apelo de que de Nextel pra Nextel, a gente não paga nada, em compensação, parece que o minuto do Nextel pra outras operadoras é mais caro. Preciso pensar e fazer conta.

Também joguei fora um sacão, desses grandes, tipo Casa & Vídeo, com um milhão e meio de blocos com anotações velhas, que não servem mais pra porra nenhuma; um milhão e meio de estratégias do projeto que deu errado há uns dois anos; uma pilha de cartões de visita meus, com a logo do mesmo projeto. E, sim, botei uma pilha de CDs de volta nas suas caixinhas. Tavam todos empilhados, num canto qualquer da estante, as caixas vazias do lado. Ia botar em ordem de estilo, brasileiro e estrangeiro, mas o Fator Zefa transforma essa tarefa em algo completamente inútil, é enxugar gelo: eu boto numa ordem que me parece sensata, ela vem pra limpar, bagunça tudo de novo. O mesmo vale pros livros. Caguei também.

Nem tô muito feliz, não. Dei de cara, por exemplo, com umas coisas que escrevi num bloco no velório da minha mãe durante a madrugada mais desgraçada da minha vida - pois é, em algum momento, a única coisa que poderia me manter viva era escrever. Que que eu fiz? Rasguei e joguei fora. Na boa, pra que guardar a anotação? Se, um dia essa dor virar livro, não há possibilidade de eu esquecer o que eu tava sentindo. Guardar só ia servir pra sofrer mais. Foi pro saco. Literalmente. Ainda tô pensando no que fazer com a gravação na secretária eletrônica dum telefone velho, que achei aqui, outro dia, com a vozinha dela, me dando parabéns pelo aniversário, ano passado, eu acho.

Ter achado isso a tão pouco tempo do meu aniversário este ano quase me enlouqueceu, devo registrar. Ah, sim, a gravação também tem a voz do meu pai. Sei que posso me arrepender horrores se deletar. Mas, agora, só tá servindo pra me mastigar o peito. Acho que a melhor decisão, neste momento, é, mesmo, enfiar o tal do aparelho em algum canto qualquer do cafofo pra decidir depois. No futuro, isso tudo pode virar o único registro de áudio do que um dia foi a minha família. Mas, no fundo, no fundo, não sei ainda.

Na boa, parece que me mudei pruma casa nova, parece que tomei um banho de descarrego. Só falta arrumar o meu quarto, que tá cheio de entulho também, mas amanhã eu ataco.

Também tirei de um canto qualquer minha agenda de 2009, que tava abandonada, eu, completamente desorganizada, deprimida pra caralho. Tá aqui na minha mesa. Tá bão, eu sei que setembro não é mês pra um ser normal reativar a agenda, mas é assim que as coisas tão acontecendo aqui. A agenda, aliás, é toda lilás, toda fashion. Também é lilás a capinha que comprei pro meu laptop semana passada. Também é lilás o detalhe do lugar de botar aguinha do ferro de passar novo, que comprei hoje - o velho pifou e tô com uma pilha de roupas esperando a boa Zefa segunda-feira. Ferro fashion é um pouco demais, eu sei. A carteira nova, que tive que comprar depois que me roubaram a bolsa? Lilás.

Ato contínuo, lembrei de uma amiga minha, de uns 20 e poucos anos, que, uma vez, foi parar numa cromoterapeuta e aprendeu que o lilás é a cor da mudança ou de querer mudança, não me lembro mais. Só guardei a palavra mudança. Ato falho total, morri de rir aqui, sozinha, enquanto arrumava as coisas e fui me dando conta da quantidade de coisa lilás que tem no cafofo. Fui num site esotérico qualquer agora, só de sacanagem, e eis companheiro lilás: "Tem efeito purificador. Transforma as energias negativas em positivas. Ótimo para a saúde. Acalma o coração, a mente e os nervos." Não se surpreendam se eu aparecer com o cabelo lilás!

Só entra nessa casa, agora o que couber. Quando morar numa mansão, compro um piano de cauda. Não é o caso agora. Preciso ficar do tamanho do meu apê. Tá, só eu não sabia. Dã. Ah, sim, também só gasto o dinheiro que tiver - preciso dar paz a companheiros Mastercard e Itaú, afinal de contas. Só amo quem me amar e sou só amiga de quem for gente legal. Só faço projeto pra cair dentro, com planejamento de gente grande, com gente em quem eu confio. Só topo projeto que eu tenha certeza absoluta de que eu posso tocar. Cumpra-se.

Claro que isso tudo tem a ver com a proximidade do aniversário, com a reflexão do que este ano foi até agora, com a tristeza toda que me afogou num ninho bagunçado, infeliz. Mas, enfim, acho que, finalmente, arregacei as mangas e parti pra briga com o cafofo, que ainda mando nesta merda. O cafofo, aliás, agora, tá voltando a ser o brinco que sempre foi. Eu sou maluca, mas sou boa dona de casa, porra.

Aí, de repente, me lembrei que publiquei um livro (meu sonho de infância; desde que comecei a pensar direito, comecei a escrever, meu Deus do céu), já saí em um monte de jornal, já fui à TV e vou estar na Bienal no sábado, das 20h30 às 22h, aliás, autografando um livro gerado pela tristeza de um pé na bunda dum sujeito que, se era apaixonante e charmosão, também era covarde, mentiroso, cínico, escorregadio como o que, cujos defeitos eu, simplesmente, fui fingindo ignorar, como se não houvesse amanhã. Só que havia amanhã. E eu, aliás, tô em pleno amanhã, chamuscadinha da silva.

Aí, fiquei pensando na quantidade de amigas ou conhecidas ou estranhas ilustres que transformaram dor de corno ou qualquer outra dor em uma coisa positiva, especialmetne, com relação à carreira de jornalista e escritora. Na boa, enfim, sabe, assim, tipo, cansei de me fuder? Alías, sabe, assim, tipo, cansei de achar que eu sou uma miserável? I'm back in the game, meu povo. Surto total, eu sei. Mas, foda-se: não posso chegar aos 50, o que não tá muito longe, aliás, nesse astral eu-sou-rebelde-porque-o-mundo-quis-assim, loser total.

É isso, resumindo, é isso. Fui, que amanhã é dia comprido, com toda a ralação do mundo e meu pai chegando na hora do almoço pra passar meu aniversário, na sexta, comigo. Oba. Ainda tenho uma família, porra. Quando não tiver mais, sofro tudo de novo, claro. Mas, por enquanto, tô completamente só-por-hoje.

4 comentários:

lct disse...

Bom dia, que legal que vc está conseguindo. Eletro-eletrônicos quebrados em casa dão azar, móveis e papéis velhos trazem energia negativa mesmo. Eu preciso tb fazer um faxinaço desse na minha vida. Um dia comecei e parei, tenho que continuar.. Vá em frente, não pare, tudo já está começando a mudar para melhor, tenha certeza disso... Beijos do LCT

ROZANE MONTEIRO disse...

valeu, aí, frô. beijoca. os próximos alvos são os duzentos telefones parados que tenho aqui, todos emarfanhados, como diria minha mãe, na estante do quarto. oremos. vai tudo pro pré-sal. tudo isso, claro, administrado com trabalho, que tenho 30 coisas pra fazer. ai. tenho tanta coisa pra fazer que tô até com pena de mim. socorro. fui.

Beatriz Fontes disse...

Meu pai gravou numa fita K7 (e depois num CD) uma vez que meu avô ligou, como sempre fez todos os anos, à meia-noite do aniversário dele, para cantar parabéns no telefone. É, talvez, o que ele considere um de seus maiores tesouros. Todos os anos ele lembra de ouvir... No início, era um tanto mórbido, mas agora é algo alegre.

Minha mãe já não deu tanta sorte... No máximo, conseguiu salvar a mensagem de saudação da secretária eletrônica da minha avó. Mas, ainda assim, é alguma coisa. Ela guardou... É um apenas arquivinho de som perdido lá no computador dela, que não ocupa espaço nem fica permanentemente à vista.

Sei lá, são caquinhos de memória que nos ajudam a lembrar de nossa própria história. Acho que podem (e devem) ser apreciados... com moderação.

PS: Hoje estou "falante"... Tédio total no trabalho.

ROZANE MONTEIRO disse...

ih, Beatriz, esqueci de responder, foi mal. o que acabei decidindo foi guardar o telefone velho, que enfiei num canto qualquer dum compartimento fechado da minha estante do quarto. não fica à vista, mas está lá.

até fiquei tentada a ouvir no meu aniversário, mas achei melhor não mexer com isso. e cheguei a falar com meu pai sobre a gravação, e ele não fez nenhuma referência a querer ouvir. ficou por isso mesmo e ficamos só nós dois e nossas lembranças, sem sapatear muito na dor, que a gente ainda tá digerindo o babado todo, cada um, a sua maneira.

acho que foi a melhor decisão, no fim das contas. um dia, acho que vou fazer o mesmo que seu pai e sua mãe. vou digitalizar e guardar num canto qualquer do laptop ou do pen drive. por ora, preciso, literalmente, deixar quieto. se deletasse, no desespero, sei que iria me arrepender. por ora, tá sub judice (Dra. Alexandra, é assim que escreve essa coisa? preguiça monstra de ir no Google agora).