sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Utilidade pública IV

Aí, veio a missa de sétimo dia, eu, completamente sem roupa. Tinha ido pra mais um fim de semana lá pra ver minha mãe, com uma mochila e pouquíssima roupa, deu no que deu, fui ficando, não tinha o que vestir na missa. Dura como um coco, meu bom pai me deu um vestido preto, que usei na missa, enrolada no xale verde que trouxe do Irã, numa viagem de trabalho, pra minha mãe e ela nunca usou. Minha mãe era assim, roupa da qual ela gostava muito, ela não usava. Pra não gastar.

Enfim, pensei, pensei, pensei, resolvi que tinha escrever algo pra ela. Em algum dia daquela semana maldita, uma quinta, eu acho, baixou caboclo escritor, consegui escrever. Na hora da missa, fui no padre, dizendo que queria ler aquilo pra minha mãe. O padre amarelou total, disse que não podia abrir exceção - "Se todo mundo quiser ler alguma coisa, a missa não acaba" -, achou o texto grande, eu, caneta em punho, cortei na hora o que achava, mesmo, que era excesso no texto. "Padre, minha mãe não vai morrer nunca mais, eu juro." Ele se comoveu, eu dei uma pernada nele, lendo um parágrafo que eu jurava que tinha cortado, fui aplaudida pela igreja inteira.

Pra melhorar, uma prima, da mesma idade dos meus pais, uns 80 e tantos, veio me dar parabéns pelo texto lido na missa e, de quebra, com uma amiga, de mesma idade, elogiou meu livro, que as duas tinham lido. Àquela altura, eu já sabia que meu pai morre de vergonha pela quantidade de bobagens que tem no Sua Excelência... Falei pra elas, em plena igreja, "pô, aproveita e fala pro veio que cês gostaram do livro". Assim foi feito e, de novo, numa situação absurda, morremos, todos, de rir do senso de humor da frô aqui, eu sempre lembrando que a culpa era só dele, meu veio querido, todo mundo concordando.

Não, ninguém entendeu porque um viúvo e sua filha morriam de rir logo depois da missa de sétimo dia de Dona Nilza.

Nenhum comentário: