Fico fazendo piada com Deus e Alá, bem feito pra mim.
Estava eu ontem à noite, na mais absoluta lama (não a que me espera, como diria Augusto dos Anjos, mas a que já me encontrou e não me larga), me aparece um cadeirante mal-humoradíssimo. Encostou na mesa onde eu jantava aqui na Adega, no Largo do Machado, sozinha, e pediu trocado. Devo admitir que respondi que não tinha sem nem me mexer, sabendo que tinha umas moedas no fundo da bolsa, olhar na linha do horizonte. Não, não tinha nenhuma flor festejando mais um dia que vem vindo. Se tivesse, eu pisava em cima.
Mas, enfim, o fofo deve ler pensamento e mandou um “Deus abençoe a senhora”, que, dado o olhar com o qual o ser humano me fuzilou e dado meu coração magoadíssimo, equivaleu a algo como “tomara que ame de novo e tome outro chute, gorda escrota”. Como ele não é o único que me odeia, à essa altura, na região, relevei e continuei à espera da conta sem mencionar nenhum dos adjetivos que me deu vontade de dirigir à pessoa do cadeirante – aliás, palavrinha esquisita essa, que algum gênio inventou a partir da “cadeira de rodas”, mas não tô aqui pra levar bronca politicamente correta, tô muito frágil.
Falar em região, lembro que o traste mora no mesmo bairro. Sério, mesmo, alguém aí tem alguma noção da quantidade de homens maduros que pululam por aqui parecidíssimos com o rapaz que inspirou este blog? Vivo tomando susto desde o cisma. Aliás, alguém aí tem alguma noção da quantidade de homens maduros muito mais interessantes do que o mesmo rapaz? Vivo babando de ódio.
O pior é a Síndrome do Tratado de Tordesilhas, como bem definiu uma amiga. Ando tão descompensada nos últimos dias, que estabeleci pra mim um raio de ação, praticamente um pátio cercado metaforicamente pros meus banhos de sol. Não me aproximo da casa do sujeito de jeito nenhum, e, se ele aparecer aqui na minha área, acho que vou acabar virando alto de página de Polícia, editada por algum amigo. Fumante, acima do peso, vou acabar não conseguindo me evadir e tenho a certeza absoluta de que vou parar nas estatísticas de prisão do Cabral, provalmente, entre os chamados "autos de resistência" - são aqueles registros de ocorrência policial nos quais alguns homens da lei juram que o tiro à queima-roupa na nuca do sujeito foi dado quando ele corria ou atirava na "guarnição".
O que o cadeirante não sabe é que, quando fui abordada por seu mau humor, estava justamente pensando nas últimas duas semanas e num dos talentos que os canalhas enrustidos trazem de fábrica: a capacidade de te fazer supor que você é que é a louca. Simples assim. Eu estava, mesmo, repassando cada frase dita nos últimos quatro meses e no último dia, ao telefone. Igual a repórter que confere anotação de entrevista com algum personagem polêmico, especialmente, quando não grava as declarações que sente que vão parar na primeira página do jornal no dia seguinte.
Acho que é isso, matei na mosca sem nem elaborar muito as idéias: até agora, acho que me sinto como se tivesse de ter gravado tudo o que o cretino me disse nos últimos quatro meses pra, no mínimo, esfregar na lata dele. Não, na boa, tô aqui lembrando o ar mais lavado do mundo, como se eu fosse a anta surda que tivesse confundido tudo. Sério, me ajudem nesse momento difícil: quando o sujeito fala assim, ó, "quero me casar com você", há alguma possibilidade, ainda que mais remota, de haver alguma metáfora nesse troço? Ai, sei lá, a praga não-dita do cadeirante me deixou mal.
Isso tudo me fez lembrar certo ex-governador, casado com certa ex-governadora, que um dia, depois de uma entrevista que deu o que falar no dia seguinte, ligou pro jornal em questão exigindo a cabeça da repórter. Segundo ele, a moça tinha inventado tudo. A pobre só não foi demitida porque tinha a fita com a declaração da anta loquaz.
Meu Deus, como fui dar esse mole?
Ó, então, num momento revisão de procedimentos, muito pessoal, vai avisando aí: posso até dar, descumprindo a primeira resolução de Ano Novo, que também não sou de ferro. Mas eu juro que vou gravar tudo, baixou Juruna.
É, bem... difícil vai ser esconder o gravador na cama, sem nenhum bolso. Mas eu dou meu jeito. Posso, sei lá, esconder num canto qualquer do meu corpinho. Não importa, e, como diria a boa Scarlett O'Hara, a louca do E O Vento Levou..., que também acaba chutada, a coitada, depois, eu penso nisso - ou algo que o valha, que tô com preguiça de ir agora no Google pra encontrar as aspas corretas.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
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2 comentários:
Desculpe, mas não tem nada de fofo no "senhora". Devia existir uma disciplina nos primeiros anos do ensino fundamental para ensinar a desaprender as palavras senhora e dona.
Oi Rosane, eu acho fofo quando voce chama ossubstantivos de "fofo".
Mas nao foi fofo o canalha, e eu acho que esse blog fala de muitas verdades. Concordo que os canalhas nos fazem sentir loucas!
beijos querida
FS
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