Um dos filmes que a mané do post aí de baixo me sugeriu foi Anti-Herói Americano, biografia do autor de quadrinhos Harvey Pekar. Pensei: “Que mal pode haver num filme desses pra uma alma que sofre, né? Nem desenhar eu sei, né possível que me torture”.
Lembram do anjo que tava de férias? Pois é. Ao que parece, voltou. Com um senso de humor insuportável, o cachorro.
Armei todo o circo pra ver o filme. Ajeitei o colchonete e o edredon que hoje tão cobertos com uma manta no chão da sala até eu conseguir comprar um sofá - a poltrona do traste foi doada ao porteiro, lembram? Peguei minha comidinha árabe e o mate. Espalhei cigarro, cinzeiro e celular perto pra não ter que ficar levantando e botei o raio do DVD.
Necessário dizer que, quando minha amiga falou do filme, eu entendi errado. Achei que o biografado é desenhista - tá vivo ainda. Não é. É o autor dos textos dos quadrinhos. Quando dou por mim, o cara vai conseguindo, a despeito do empreguinho de merda, expressar o que sempre quis por décadas: a voz de sua própria alma nas situações mais inusitadas, o retrato de cenas cotidianas banais. Um anti-cronista mal-humorado que deu o jeito dele de ir enfiando nas tiras os amigos, a mulher e quem mais lhe cruzasse o caminho pra lhe emputecer.
Como se não bastasse, numa cena em que ele olha pra mulher patinando com a filhinha, tem um sax tocando ao fundo uma música da Noviça Rebelde. Cês vão achar que eu tô de sacanagem, mas eu juro que era My Favourite Things, aquela que a maletinha austríaca ensina às crianças pra espantar a tristeza. Claro que, a essa altura, eu já tava quase fazendo o pão árabe de lenço.
Ainda assim, fui fingindo que não era comigo. Até que o manezinho, ao se engraçar pruma dona, vai logo explicando por que tinha perdido o jeito pra namorar e quase me faz cuspir o tabule, de tanto rir, ou chorar, ou os dois, já não lembro mais:
- A minha última namorada foi uma canalha.
sábado, 12 de janeiro de 2008
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11 comentários:
Bom, Rozane, antes de tudo me desculpe o sumiço (culpa da REFER). mas acho que você precisa assistir uns filmes mais despretensiosos, muito embora esse seja um grande filme. Que tal uns filmes de porradaria? Sugiro Adrenalina (Crank), com o Jason Statham, Sentença de Morte, com o Kevin Bacon (ele ainda existe!) ou 3:10 To Yuma, com Russel Crowe e Christian Bale, ou qualquer desses filmes de zumbi por aí (tem o 30 Days Of Night, o 28 Weeks Later e muitos outros). Caso precise de filmes menos violentos, sugiro Menina Má.com (péssima tradução), o novo do Werner Herzog (esqueci o nome), ou qualquer um do Monty Python ou Mel Brooks, filmes antigos mas imbatíveis. Bjs!
Baby, assiste "Minha super ex namorada"! É bem despretensioso mesmo!!! E além disso, quem não sentiu vontade de ter super poderes pra fazer o que a Uma Thurman fez com o ex namorado dela (deu até pena por um reles segundo) que atire a primeira pedra!!
PS: Se tu assistir filmes violentos, o cafa corre um super risco e nem quero ir te visitar em algum "cadeião" da vida né?
=*
Eu disse umas 17 vezes (deve ter sido nas vezes em que bateu a trizteza) que ele não desenhava nada.Quem o fazia era Robert Crumb, cuja biografia nos revela as idiossincrasias de uma mente perturbada, já castigada pelo uso abusivo de LSD e culpada pelas alucinações sexuais bizarras."Deus no submundo artístico dos anos 60, Crumb não saiu do bojo de São Francisco para os braços da geração hippie, simplesmente. Ao contrário, antes fez fama e ódio no interiorzão reacionário dos Estados Unidos. Nascido na Filadélfia em 1945, Crumb partiu das mesmas Cleveland e Houston que Gilbert Shelton para só depois ser bajulado pela geração hippie, que, para ele, era uma colméia de idealistas ingênuos e gente pronta para mostrar os pelos do sovaco na primeira demonstração de "liberdade".
Foi mal: problemas de usuário fez o mesmo comentário ser postado duas vezes. Mais do Crumb: Já famoso na San Francisco do fim dos anos 60, engoliu LSD ("era o legítimo! Da Sandoz, 600 microgramas, fabricado na Suíça!"), desenhou inspirado pela droga e chegou até a fazer capa para disco de Janis Joplin - "apesar de odiar sua música" - por minguados 300 dólares. Crumb era o cara. O ás. Podia ter feito fama e sucesso, mas recusou fazer uma capa para os Rolling Stones. "Porque mais legal que fazer uma capa para eles era não fazer...", escreveu num dos vários textos raros que deixou (todos reunidos aqui). "Hoje me arrependo. Cara, quantas meninas eu podia ter pegado com uma capa para os Stones no currículo!". O arrependimento é um sofisma, uma ironia. Seu espírito arredio e sua personalidade misantropa o conduziram a um ceticismo amargo que não permitia concessões a qualquer forma de espetáculo - e Crumb já descobria a geração hippie como um espetáculo. Não conseguia "simplesmente entrar na onda".
Crumb nasceu em 1945, portanto é da minha geração. Pra quem tem queda por véios é uma boa pedida...
Crumb era um desenhista sem história. Pekar um contador de história sem crayon. Quando o primeiro leu as maluquices do segundo, pensou:meus personagens ganharam alma. E fez-se a festa!
joledeca, welcome back!!!!!! quanto aos filmes, valeu, mas acho que vou ter que concordar com a luluzinha. se eu vir algo com Um Dia De Fúria, vai dar merda! :)
Mel Brooks é excelente alternativa!
"queda por véios"""??????????? quem? quem ? quem? tô legal´de homens muito mais maduros (?) que eu. a caça agora é por quarentão, no máximo, um cinqüentão. cumpra-se.
alías, de intelectual, homem-metáfora, também
alías, de intelectual, homem-metáfora, também
Eeu quero ser o neguinho da rua do Catete, que cantando um só hit subiu na vida e até mudou de postura, me contou a Cris. O conheci cantando, com um pequeno amplificador, uma só música, que era de uma dor de corno de doer: "Mulher burra/é muito burrra/pra lá de burra". Agora, ele anda mais ereto e com um amplificador muito maior.Ou ganhou dinheiro com o hit parade ou voltou pra mulher, conclui a Cris.
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