sábado, 26 de janeiro de 2008

O anão de jardim bígamo e o traste do Lênin

A protagonista hoje prefere definir o ocorrido como um espetacular "conto do vigário". Corta pra Salvador em 1967. "Amor à primeira vista", diz a moça. Um ano se passa. Estamos em 1968, "o ano das primaveras no mundo inteiro", minha amiga letrada define. Em pleno Carnaval, baile no clube Fantoches da Euterpes, viram namorados, ao som de "Eu te amo, eu te amo, te amo", do Rei, sempre ele. Só um parêntesis: alguém precisava processar o Roberto Carlos ou pelo menos denunciar o azar que dá ouvir música do fofo quando tem homem na parada.

Enfim, fato é que a vida separou nosso casal, e séculos se passaram até se reencontrarem. Em Itapoã: "Ele já tava me paquerando antes mesmo de me reconhecer". Internet já comia solta e foi um ano de e-mails "apaixonados", diz ela. "Você é a mulher da minha vida", repetia o traste, que admitia estar com uma mulher "que foi ficando, se impondo sem ele querer, do tipo que lava roupa, faz comida e ainda ouve o que não quer", na definição de nossa narradora.

Noves fora nada, em algum momento, minha amiga intelectual brilhante acabou convencida pela anta de que ele resolveria a situação e ela deveria, portanto, largar tudo e se mandar de volta pra Bahia, sua terra: "Atrás de um anão de jardim, de tão baixinho, com umas malas pra durar o que restava pra viver". O que ninguém disse à moça é que o que o rapaz queria, mesmo, era ser bígamo. Simples assim. Como se não houvesse amanhã. Ao relato da protagonista:

"Era um raciocínio brilhante, de tão simplista. Ele queria, segundo suas próprias palavras, uma mulher burra, submissa e escrava; e outra intelectual, companheira, a grande paixão. Quando não topei a história, ainda tive que ouvir que sou uma 'recalcada' e 'raivosa' porque sempre fui trocada, desde a adolescência, por professorinhas, burrinhas e escravinhas."

Em tempo: nossa leitora, sujeita politicamente seriíssima, reivindica a indicação de fantasmas históricos pro prêmio in memorian de Traste dos Trastes. Prefiro deixar o relato pra moça:

"Melhor que a minha história, só a do traste do Lênin, mas a condessa Inessa Armand não está mais viva para contar. Esse caso de amor do Lênin foi escrito pela Alexandra Kolontai, uma das mulheres mais famosas da Rússia e ex-ministra da Educação. Feminista, escreveu o livro no início do século passado, sem imaginar que iam chegar ao poder. É assim:

O Lênin, que ela chamava de "seu Senka", traía a mulher com a condessa, pobre menina rica, dizendo que ela, a mulher, era muito doente. E ainda arrumava uns trocadinhos da amante, antes de ser o todo-poderoso da União Soviética: "Deus sabe que já temos tido problemas demais. Aniuta está novamente doente, e o médico disse que ela precisa de repouso, o que significa que precisaremos de uma criada morando conosco. Mas, aí, surge o problema do dinheiro... Você sabe a nossa situação financeira..." Convencia: a pobre da condessa, cheia de culpa por ser rica, pensava que a vida parecia um purgatório para o seu amado.

Dava pra premiar fantasmas?"

16 comentários:

Anônimo disse...

aí, adorei o traste histórico!!!!!!
o grande karl marx também era. vivia ás custas da mulher condessa e traçava as empregadas domésticas entre um discurso contra a burguesia e outro a favor dos trabalhadores explorados!!!!!! (rs)

ROZANE MONTEIRO disse...

isso, isso, bela lembrança. até me ocorreu o marx, mas não me lembrava a trama, era isso, as domésticas. tô agradecendo se quiser contribuir com pesquisa, babe. de pronto, me ocorreram Chaplin e Picasso (ninguém vem ao mundo com um nome desse impunemente, vamo combinar, né?)

Anônimo disse...

dizem que em plena lua-de-mel, platão depois de cumprir suas obrigações conjugais foi curtir a noite com seu garoto preferido...
tem um bom livro: ih, esqueceram madame freud, que conta a história de vários trastes

ROZANE MONTEIRO disse...

porra, galera, vamo relembrar essas histórias.

Anônimo disse...

O livro do traste histórico chama-se Um Grande Amor, de Alexandra Kolontai, proibido anos na União Soviética por motivos óbvios. No Brasil, foi editado pela Rosa dos Ventos -- e não existe mais. Tenho um exemplar.

ROZANE MONTEIRO disse...

cara, pergunta de um milhão de dólares: como é que ela conseguiu publicar? aliás, de quando é a primeira edição, afinal de contas?

ROZANE MONTEIRO disse...

alías, não tenho nada com isso, não, mas Freud não era um traste também, não?

Anônimo disse...

Nós vamos terminar processadas pelos trastes, vivos ou mortos. risos.

ROZANE MONTEIRO disse...

caaaaaaaaaaaguei. como diria minha mãe, sempre que falei de assombração pra ela: "minha filha, sempre tive mais medo de quem tá vivo do que de quem tá morto". sabedoria mineira.

Anônimo disse...

O Freud era um ser "desprezível", segundo uma personagem de Desperate Housewives.-- A mãe dele, coitada, nasceu em 1800, quando não havia eletrodomésticos. Portanto, deu um duro danado para criar os filhos. Aí, ele cresceu e ficou famoso traficando a idéia de que tudo de errado que acontecia com as pessoas era por algo que a mãe não pôde proporcionar a elas.Nem se preocupou em agradecer.
A edição do meu livro Um Grande Amor nem data tem. Tinha um, emprestei, sumiu. Uma amiga achou outro, antes da editora recolher, e me deu: a dedicatória traz o ano de 1997.

Anônimo disse...

Nem sei como publicaram o livro. Kollontai morreu na União Soviética em 1952.Como ministra da Educação, criou escolas libertárias em pleno 1917.

ROZANE MONTEIRO disse...

pô, alguém conta aí a história direito do Marx. ih, lembrei que eu tenho o livro com a biografia da mulé dele. vou catar aqui.

ROZANE MONTEIRO disse...

já achei. trata-se de "Jenny Marx ou a mulher do diabo", duma escritora francesa. uoba!

Anônimo disse...

Oi Rozane, esta sua frase: "não dou, não dou e não dou. Se o Dalai Lama e o Padre Marcelo podem viver sem sexo, eu também posso. Um vive rindo, o outro vive cantando, não há de ser de todo ruim. Feliz Ano Novo!", vc pode registrar e exigir direitos autorais, pq é esta frase é demais. Nao fique assustada se ler esta frase num cartao de Outdoor. Fique esperta mulher!! Nao temos de que ser independente, temos que ser rica e poderosa. Um abraco, Luciana

Anônimo disse...

sumiu meu comentario sobre o fofo....snif Luciana

ROZANE MONTEIRO disse...

cara, é impressionante como essa frase tá fazendo o povo rir. eu juro que escrevi sem nem pensar. quanto ao seu comentário, como assim? tá lá no outro post.