Alemão devidamente embarcado. Pelas minhas contas, agora, não deve estar muito longe de Paris, onde é a conexão, se é que já não chegou. Há de adentrar o gramado em casa amarrotado, de manhã cedo, fuso horário todo trocado. Ah, coitado. Ih, rimou tudo.
O melhor de tudo é que achei que ia me rasgar toda, babar de saudade, ainda remoendo a trapalhada do mané. Mas tô aqui, no cafofo, tranquilamente, pagando conta, planejando coisas de trabalho amanhã, ralando meu coco diário, certo alívio no peito. Até dei uma chorada básica de uns, sei lá, dois minutos, quando li o bilhete que o fofo me deixou aqui em casa, ainda pedindo desculpas. Me comovi, lavei a fuça e já arquivei a última semana no canto do coração em que a doce anta tem morado de aluguel nos últimos 17 anos.
Também vi umas fotos que ele tirou aqui nos últimos dias e baixou no meu laptop (contei que o computador de mesa tá precisando ir pro estaleiro? acho que não). Entre elas, uma só dos meus cachinhos, e algumas da minha fuça de perfil, tiradas quando eu não vi que o mané tava tirando foto. Não, não vou continuar filosofando. Não faz mais nenhum sentido. Na boa, tô muito legal de tentar entender essa porra.
Mas, enfim, quanto à despedida, já ia esquecendo de contar. Ontem de noite, em casa, depois de a gente ver o tal do show de blues aqui perto, sentei no computador e pari um conto em inglês; o fofo no hotel. Totalmente baseado nos fatos reais que me atropelaram na última semana. De humor. Sem pieguice.
Hoje de manhã, antes do último café da manhã que tomaríamos juntos antes de ele ir embora, texto impresso, enfiei o tal na mão do mané, que já tremeu só com o título. Na boa, a cara que a pessoa fez só de ver o título não tem preço. Aliás, a cara que a pessoa fez enquanto lia o texto todo tem menos preço ainda. Noves fora zero, desabafei no conto o que faltava desabafar, ele captou a mensagem, me deu o abraço mais apertado do mundo e continuou pedindo desculpas, que, aliás, foram aceitas, de vez.
Não, não teve mais beijo na boca. Nem achei que teria, na verdade. Mas fato é que, ainda no abraço apertado, fui desfazendo, desfazendo, e corri o mais rápido que pude pra ir trabalhar, antes que me pingasse a primeira lágrima do olho. A mesma, aliás, só pingou no táxi - pois é, peguei um táxi hoje, achei que merecia e pronto. Devo esclarecer que, depois do abraço, o mané me olhou com aquela cara de cachorro com fome de sempre, nas nossas despedidas; eu não entendi se o gênio queria beijo na boca ou não; preferi não arriscar. O que ele queria, exatamente, só vou saber no próximo e-mail que a gente trocar. As risadas, juntos, sobre a imensa trapalhada que foi a última semana, só vamos dar quando nos encontrarmos de novo em algum canto do planeta, sabe Deus quando.
Também é fato que passei o dia entre ainda remoer certa raiva e um monte de saudade do ser. Mas, no fim das contas, foi tudo passando, passando... passou. Depois de 17 anos, vamu combinar que nenhuma das duas emoções chega a ser novidade nessa história maluca, que, ao que parece, vai ficando mais maluca com o passar do tempo.
Aliás, contei que passamos uma semana igual a dois velhinhos, a sacar os óculos de leitura a cada lugar em que sentamos pra comer ou beber aqui no Rio porque nenhum dos dois consegue mais ler sem óculos? Não, não contei. Mas mandei na fuça do moço de 46 anos: "Cara, tu tem a percepção de que isso não vai acabar nunca e que, sei lá, daqui a uns 30 anos, a gente vai continuar se encontrando, se pegando ou não, falando da vida, dos netinhos, dos rumos do jornalismo e da política internacional, de Praga, etc, etc, etc?" Claro que ele concordou.
Claro também que acabamos lembrando que tínhamos menos de 30 anos quando nos conhecemos (eu, 26; ele, 29), aqui no Brasil, no Sul; botamos a culpa no Jaime Lerner, que convidou a imprensa mundial, literalmente, pra uma farra em Curitiba dias antes da Rio Eco 92; e quase morremos de rir. Em 92, ele era editor de um jornal de esquerda alemão, todo, todo ecologista, e veio pra cobrir a conferência. Eu era repórter do DIA e integrava a equipe que cobriu o encontro mundial. Lembro que, na época, o Muro da terra dele tinha acabado de cair e lembro também que o bichinho quase teve uma síncope, agora, aqui, quando soube que o povo tá pensando em construir muro em volta de favela: "Cara, de muro eu entendo", disse o fofo.
Cama já, que amanhã vai ser dia longo de ralação. Inté, meu povo.
terça-feira, 14 de abril de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
4 comentários:
Pra mim uma das letras mais lindas:
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro é também despedida
Um beijo,
Mônica
vai liberar alguma foto do gato para a gente vê?
monica: e tu acha que eu já não elegi essa uma das músicas da minha vida?
mirtes, não vai dá pra liberar foto do gajo, não. nem nome. o bichinho é famosão lá (outro dia foi parado pra dar autógrafo, longa história). vai que dá um azar de algum alemão do círculo dele saber português. foi mal, aê.
Postar um comentário