segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Senhoras e senhores, pela primeira vez reunida, La Famiglia, diretamente de Brasília



É isso, meu povo, esta autora informa que já está em seu cafofo no Largo do Machado, depois de um fim de semana com sua família biológica, depois de uns 257 anos separada, cada um em seu canto, cada um com sua biografia, cada um com uma saudade puta, atávica, um do outro, mesmo sem se conhecer ou sem se ver há décadas. Tem uma história pra cada um, mas vou poupá-los. Por ora. Longuíssima história que, dado o altíssimo nível de entorpecimento e de alegria em que me encontro, não vai dar pra contar aqui agora. Juro que conto assim que a ficharalhaça cair.

Por ora, tomem aí a foto de La Famiglia, a saber, da esquerda pra direita:

1) Carlos, 45 anos, o primogênito, meu irmão da família original, de Sergipe, coordenador do programa de combate à dengue de uma cidade do litoral paulista, que gosta tanto de sair em foto quanto esta autora. Mulherada, pode chamar de gato, que eu deixo - fala, coruja! Mas também pode tirar o raio do olho a-go-ra, que o gajo é muito bem casado há anos e pai de família.

2) Esta autora, 44 anos, que gosta tanto de sair em foto quanto o primogênito e que hoje é jornalista, profissão que exerce há mais de 20 anos; já rodou mundo mais do que planejou, menos do que sonhou. E que só tem a dizer o seguinte: abraçar cada um desses uns apertado foi experiência inédita em sua modesta biografia.

3) Dona Lourdes, (não vou revelar a idade, não; não consultei se podia e não tô aqui pra arrumar briga neste momento tão delicado de nós todos). Preciso dizer quem é? Só adianto que me chama de "minha filha" e que chama de "sua mãe" Dona Nilza, minha veia querida, que partiu ano passado; minha mãezinha pra todo o sempre, que me adotou quando eu tinha lá pelos meus três anos, por motivos que, atesto aqui, já compreendi, só agora, mesmo que eles me tenham sido explicados, graças a Deus, sem muitos rebuscamentos freudianos, mas sob uma ótica tão operacional quanto desprendida. Depois, eu conto. Agora, não vai dar, não. Ainda tá passando, quadrado, pela garganta.

4) Simone, 38 anos, filha do segundo casamento de Dona Lourdes, nascida no Rio, criada em Brasília, hoje cantora na Suíça, o ser mais zen da turma, bonita que só ela. Ah, sim, dada a sua capacidade de se meter em roubada e dado o jeitão viajadora, saltimbanca, de ser, já foi apelidada, naturalmente, de Cigana Nova. Adivinhem quem é a Cigana Veia?

E é isso. E quem quiser que conte outra.

Ah, quanto aos presentinhos que fiquei dias remoendo aqui pra decidir o que levaria, ficou assim:

Levei um exemplar do Sua Excelência... pra cada um, com dedicatórias exclusivas, claro. Por quê? Porque lembrei que, além de o livro ter sido uma catarse de vocês sabem o que, foi também um jeito que dei de botar no papel, literalmente, minha alma tal como ela é, com desabafos aqui e ali sobre minha vida desde a infância. Achei que seria um cartão de visitas eficaz e quase enlouqueci meu editor pra me entregar os livros na sexta-feira à tarde - ideias brilhantes, como sabemos, só aparecem na última hora. Ave Artur: não devia, mesmo, mas também te adoro! Claro que, depois que dei o livro pra cada um deles, lembrei de passagens das quais não me orgulho. Também lembrei de passagens que tinham a ver com a minha história desde sempre. Mas, aí, já era tarde e me calei com a boca de feijão. Quando passar o torpor pelo reencontro, sei que há de vir repercussão de cada uma dessas passagens de cada um do meu povo. Oremos!

Carlos, o primogênito, quando ganhou o livro, abriu numa página qualquer e leu, em voz alta, pra todo mundo ouvir: "Ih, 'O medo do Pênis'". E me olhou com uma cara de irmão mais velho com a qual não estou - filha única que sempre fui -, mesmo, acostumada. Silêncio sepulcral até que a mulherada em volta morreu de dar risada e mudou de assunto, rapidamente, numa prova matriarcal de solidariedade que quase me levou às lágrimas.

O outro presente foi o seguinte, tenho que explicar. Quando fui embora de Praga, comprei aquelas bonequinhas que ficam umas dentro das outras, que mantinha, separadinhas aqui, na minha estante da sala, parte da minha história, portanto. Fazendo a mala, resolvi: "Meu Deus, são quatro, a conta exata". Pois levei a família, que, na verdade, é uma tradição russa, decidida a dar uma pra cada um.

Assim que cheguei a Brasília, dei, claro, uma pra cada um, num ritual todo legal, emocionado, mesmo, eu juro, direitinho como estava no meu script. As mulheres de La Famiglia - matriarcal, como vocês já devem ter percebido - se emocionaram, funcionou. Mas meu irmão não viu o ritual e só chegou à mesa quando tinha sobrado pra ele uma bonequinha coloridinha qualquer. Não, eu não tenho palavras pra descrever o olhar que ele me deu, tomando um esporro de pé de orelha da nossa irmã; um chute na canela, uma cotovelada no fígado, talvez?; uma coisa "depois, eu te explico". Não tem preço.

Foi isso. Vou contando o resto aos poucos, tá? Tô muito no susto ainda.

24 comentários:

lct disse...

Que família bacana... D. Lourdes me faz lembrar da mãe Neuzona. Toda felicidade do mundo pra vc e todos aí, nessa nova fase de sua vida...vc nasceu de novo...beijinhos mil...

lct disse...

Peço desculpas, errei o nome mais uma vez!!!! É Nilzono!!! beijos.

lct disse...

Caracas... mais uma vez errado....deve ser a falta de álcool.. É Nilzona....beijos

Anônimo disse...

Rozane sou testemunha ocular de parte dessa grande história de vida, de amor e sobretudo de busca. Conhecer seus pais "adotivos" foi especial e saber que agora os elos estão TODOS unidos é emocionante. Como amigo, irmão, editor sou seu fã, cúmplice, admirador e sendo assim torço por você pela sua felicidade e ver agora o seu real sorriso me deixa feliz.
Te amo, Artur.

Alexandra disse...

NÃO DISSE.
Aos prantos.

mirtes disse...

poxa fico pensando em o vendaval de emoções que você viveu nestes dias, que nem sem o que escrever. portanto fico aqui quietinha vibrando com sua felicidade!
tudo de bom!
beijim

ROZANE MONTEIRO disse...

meu povo, só vou poder responder mais tarde. tô no jornal agora.

valeu a força!

Paulo César disse...

Rozane, depois desse encontro inenarrável, será que surgirá um novo livro ???

Ana Cristina disse...

Estou muito comovida e orgulhosa de você!

Adriana Hanna disse...

Rozane, quanto mais passa o tempo e quanto mais gente conheço, de forma escrita, ou pessoalmente, mais admiro sua capacidade de emocionar quem te lê e consegue enxergar sua alma e sutilezas.
Nem sou sua amiga, não te conheço (pensando bem, acho que te conheço muito bem), mas tô, aqui, chorando, feito uma bobona. De felicidade, creia. Por você. Por mim também. Lembrando da família que tenho e não tenho, que estou reaprendendo a resgatar... e aprendendo a lidar com isso, com minhas fraquezas e dores.
Enfim...

Que lindo, dá pra ver a beleza do reencontro e aconchego nos olhos de todos vocês.
Sua mãezinha tava lá...
Deus te abençoe!

ROZANE MONTEIRO disse...

Artur, babe, como responder ao comentário do sujeito que fez acontecer meu primeiro livro, vindo do chute histórico? Também te amo, mano. Ih, agora, tenho um irmão mais velho, periga rolar um ciúme. :)

ROZANE MONTEIRO disse...

Dra. Alexandra, não começa, só de ler teu comentário já quase debulhei em lágrimas aqui. Tá foda, amiga, tá foda. Brigadim por estar "perto" nessa hora, frô.

ROZANE MONTEIRO disse...

mirtes, o vendaval não tá nem perto de passar. mas tô na boa, em um estado de alegria que não me lembro de ter sentido antes. valeu. beijim

ROZANE MONTEIRO disse...

Paulo César, não tenha nenhuma dúvida disso. só ainda não sei que formato dar, tá tudo muito recente ainda. mas é claro que isso há de virar livro, de alguma forma.

ROZANE MONTEIRO disse...

Ana-C, é tu? se é, só tenho uma única coisa a dizer: pau no Freud; com trocadilho. :) bj

ROZANE MONTEIRO disse...

Adriana Hanna, também não te conheço, mas seu comentário me encheu o olho de lágrimas. Escrever é algo que me ajuda a me manter viva, babe, o único jeito que sei de botar a alma na janela pra expressar o que nem sempre consigo falando e, se descambo pro humor, é por, simplesmente, achar que é o jeito mais fácil de tocar o coração de quem lê - e de disfarçar minha própria dor, claro. que bom que consigo dar meu recado até a quem nunca me viu. brigada, mesmo, pelo comentário.

quanto a sua família, não sei o que se passa, mas tenho a dizer o seguinte: estou, mais do que nunca, convencida de que, de uma forma ou de outra, seja lá como for, a gente tem que dar um jeito de refazer nossa própria história, mesmo que tenha que fazer concessões, mesmo que doa paca; acho mesmo que é um compromisso com nossa felicidade, que é, como sabemos, o que vale a lida.

bj

bernardo parreiras disse...

Muito legal! E corajoso, é claro.

Para mim, Freud era um bunda-mole. Além de ter sido influenciado por Nietzsche e não ter admitido isso até a morte, ele colocou peso demais na infância, nos pais, ou seja, nos outros. Prefiro Sartre.

Nem toda compreensão deve ser racional porque, se fosse sempre puramente racional, muitas de nossas próprias escolhas pareceriam absurdas.

Beijos

ROZANE MONTEIRO disse...

Tem razão, Bernardo, Freud era um chato. Quanto às escolhas, babe, tô aqui pensando, tentando lembrar de umas cinco em toda a minha vida que não tenham sido ou parecido absurdas. :)

Anônimo disse...

Um amigo do meu namorado pediu para eu escrever essa besteira:
Vende essa foto para a revista Globo Rural !!
Totalmente sem graça...
Anônima2

ROZANE MONTEIRO disse...

cara Anônima2, essa besteira não é sem graça, não. quase morri de rir aqui, juro.

agora, por favor, me faz uma caridade, na boa: diz pro amigo do seu namorado que não vou mandar a foto pra Globo Rural porque tenho a certeza de que a da mãe dele, se ele tiver uma, já deve estar na capa da próxima edição.

beijim

mirtes disse...

a anônima 2 me faz pensar o que leva uma pessoa a entrar em um blog só para ofender outra justamente em um assunto tão delicado?
a anônima 2 me faz pensar o que leva uma pessoa a fazer isto em nome de um amigo do namorado?
a anônima 2 me faz concluir que assim como na vida real, em um blog a gente pode encontrar pessoas frustradas, mal-educadas, desrespeitosas e que usam "amigos" como biombo para não assumir o que realmente são.

Anônimo disse...

Prometo a todos que vou fazer o amigo do meu namorado se retratar pela "brincadeira de mau gosto".
Eu disse que não ia dar certo.
A noite ele virá aqui em casa.
Beijos em todos, anônima2.

Anônimo disse...

" Ela (eu) tem razão, não fui feliz na brincadeira, foi mal ".
Com essas palavras, meu namorado disse que o amigo quer se retratar.
Até mais.
Anônima2

ROZANE MONTEIRO disse...

Tudo bem, Anônima2. Passou.