segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Brazilian Day is beautiful

Continuo ralando aqui, TV ligada ainda. Devo dizer que a Banda Eva não precisava ser representante desta nação em Nova York. Mas, tirando o mau humor atávico e o preconceito contra bandas axé em geral, cara, já me emocionei aqui até morrer vendo o mulherio chorando no show do Lulu em Nova York, multidão de "Brazilians" fechando a porra da Sexta Avenida, uma das principais vias urbanas daquela merda daquela ilhazinha.

Meu afilhado querido da dindinha há de me irritar quando aparecer aqui com a ladainha anti-imperialista de sempre. Caguei.

A questão é que este coraçãozinho que sofre aqui de dor de corno e surto de saudade de quem cujo nome não ouso repetir já bem morou fora do país por um ano. E lembrei que, quando se mete num avião de mala e cuia, a gente começa a ter desejos esquisitos, igual a grávida, do tipo comer goiabada, farofa, acarajé (e olha que não como camarão) e beber mate, guaraná e suco de caju, além de querer falar português, nem que seja sozinha. Devo admitir que levei uns livros, entre eles, o resumo da obra do Fernando Pessoa, que cansei de ficar lendo em voz alta, sozinha, só pra lembrar que ainda podia falar potuguês.

Mesmo desejo esquisito fez minha mãezinha me mandar um pacote de dois quilos de farinha pelo correio, que quase foi parar na Polícia Federal tcheca por ser um pó branco vindo da América do Sul - é sério, sem sacanagem, levei dias e dias pra retirar o bicho no Correio de lá.

Claro que amigo americano meu nenhum passou da primeira colherada no jantar de Natal. Acharam a farofa uma merda, e eu quase deprimi. Só não me entristeci muito porque adoraram meu feijão, coisa que tinha lá em Praga, e eu dei meu jeito de dar um toque brasileiro ao prato, com alho dourado na panela, lingüicinha tcheca cozida à la feijoada e sei lá mais o que que enfiei na panela.

Vendo essa porra desse show na TV e a mulherada chorando, me lembrei imediatamente de um dia, lá em Praga, que tinha um festival de cultura latina ou algo que o valha e ouvi de longe um batuque brasileiro numa praça qualquer de lá, grudada na escola onde eu dava aula de inglês, pertinho de casa, pra lá do Rio Vltava, que divide a cidade em dois.

Era um bloco. Simples assim. Blocão desfilando por uma rua qualquer de Praga. Sonzaço, o que me fez achar que eram brasileiros perdidos por lá. Ledo engano. Eram tchecos tocando tamborim e pandeiro, coisa que tinham aprendido ouvindo CDs brasileiros. Lágrima foi descendo. Só não pude passar a mão na lata pra enxugar o par de olhos que ainda tenho e só funcionam com os óculos fashion porque os braços estavam ocupados com bolsa, câmera, bloco e caneta e a muleta. Pois é. Muleta, que tinha comprado numa promoção bacana no hospital que tinha me atendido há uns dias. A propósito, alguém aí já foi parar em hospital público tcheco, onde ninguém fala inglês e, ainda assim, tenta explicar o resultado do raio X com gestos? Pelo menos, eles conseguiram me informar que não tinha quebrado e que era "só" uma torção grave.

Explicando melhor. Tinha acabado de ter uma torção horrorosa no pé direito nos adoráveis paralelepípedos históricos de Praga com um sapato novo, que não percebi porque não doeu na mesma hora, e que piorou porque passei o dia trabalhando e tinha a estranha mania de sentar na sala de aula sentada sobre o tal do pé direito, na mesa de professora. Sem sacanagem, em algum momento, o pé inchou igual a desenho animado, imediatamente virou uma bola no extremo da minha perna direita enquanto eu conversava com a diretora da escola, e graças a Deus que ela viu que eu tava muito na merda.

Resumindo, fiquei 10 dias sem trabalhar, muleta em punho num apartamento cheio de degraus (era subsolo, bacana, mas subsolo); fiquei com um rombo no orçamento porque não tinha grana pra pagar o seguro de saúde pra estrangeiros e banquei tudo no esquema da saúde privada de lá, sem poder fazer dinheiro dando aula; e, de quebra, no dia em que deu merda e o pé inchou paca, passei pela deliciosa experiência de fazer um passeio de ambulância tcheca, com sirene gritando, porque os caras acharam lindo ter uma paciente brasileira - na viagem, tentavam, em tcheco, me entrevistar pra preencher a ficha de atendimento. Era um serviço particular, que tive que pagar, e os caras tiveram que, literalmente, ir lá em casa me carregar porque, a certa altura, eu não conseguia mais me movimentar, muito menos subir os degruas todos que separavam meu apê da portaria porque o raio do pé tava absurdamente inchado e doía demais.

Alguém aí - especialmente colegas jornalistas - já tentou entrevistar alguém, anotando coisas num bloco, tirando foto E se esgueirando numa muleta, pé inchadão?

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá! Isso é uma retrospectiva do passado ou aconteceu recentemente? Se for a segunda hipótese, as melhoras para si! Não sou jornalista. ser chato ter pé torcido. beijos. nuno

ROZANE MONTEIRO disse...

morei em praga de 2004 a 2005 e ver aquela brazucada toda chorando, emocionada, em Nova York, no dia 7 de setembro, me fez lembrar da saudade que sentia do meu país quando eu morava fora. acabei me emocionando também.