terça-feira, 1 de janeiro de 2008

O suflê de queijo

Há algumas verdades absolutas na vida. Uma delas: ou a pessoa enche a fuça de vodca antes da festa de réveillon com amigos queridos ou pinta o cabelo em casa com Wellaton, pra cobrir os fios brancos antes de ir pra tal da festa. Pois é. Fiz os dois, e o resultado imediato foi o banheiro cheio de pintinhas escuras do 40-castanho médio. As manchas também sobraram pro lençol, enquanto eu passava o vestido vermelho estampado da festa na cama – não, eu não tenho tábua de passar roupa há meses, e num tô afim de falar sobre isso.

Gente, tem pingo de 40-castanho médio até na lixeirinha do banheiro. Sei lá, foi pingando, pingando, me absorvendo.

Mas o pior, mesmo, veio depois. O tal do 40-castanho médio também me pintou o braço direito e, embora no último banho do ano tenha esfregado o mesmo com a bucha fashion que tenho aqui no chuveiro, ficaram ainda algumas manchinhas. Fui pra festa, portanto, assim, com o vestido de alcinha, braços nus, certa de que as amigas iriam achar que, não bastando ter sido chutada pelo traste, ainda era vítima de violência doméstica. Fui logo me explicando. Nem todas acreditaram.

Noves fora, nada, um amigo me trouxe em casa depois da festa; eu, me acabando de chorar qual fora... sei lá... qual fora eu, mesma, morta de saudade do traste. Tá faltando metáfora, e ainda não sei se isso é bom ou ruim demais. Fiquei tãããão frágil, que meu amigo subiu pra me botar em casa, segura.

Achei fofo. Tãããão fofo, que, depois de eu servir um chá de camomila pro rapaz, sentado na mesma cadeira-cativa do cachorro na bancada da cozinha, e contar a história de uma meia-dúzia de fotos na parede da minha sala, um de nós (não me lembro, é fato) tascou um beijo na boca do outro.

Não quero quebrar clima aqui, não, mas a parede da minha sala é tudo de bom. Quando reformei o apartamento, descobri um raio duma tinta magnética que permite que você pregue as fotos todas com ímãzinhos na própria parede, e fiz uma faixa horizontal com todas as fotos da minha vida, uma coisa viagens e, discretamente, infância e tal - não se animem, parece que saiu do mercado.

Enfim, virou sucesso de público e crítica porque é bonito e porque algumas tem um quê jornalístico, sabem? – as do Irã são o hit clássico, e, quando ninguém se dá conta de que eu tô na parede enfiada num véu, eu vou falando da viagem ao Oriente Médio, assim, mesmo. Fato é que a pessoa sempre entra e pergunta imediatamente sobre a história de cada foto: “Nossa, você conhece o mundo inteiro”, etc, etc, etc. Já peguei muita gente por conta.

Mas, enfim, voltando ao primeiro beijo na boca do no ano, agora, já início da tarde do dia Primeiro: não sei se agradeço ao amigo querido por ter vindo pra cá enquanto eu rasgava o útero pelo traste ou por ter ido embora na hora certa.

Segunda resolução de Ano Novo? Esse beijo na boca me deu coragem de fazer as pazes com o fogão velho de guerra, abandonado pelo trauma de viver cozinhando pro traste. Não, eu não sei qual a relação, deve ser uma coisa boca-comida-prazer, sei lá. Não importa. O que importa, mesmo, é que, pra começo de conversa, vou fazer logo um mega-suflê pra despachar um dos dois queijos Minas que trouxe da terra dos meus pais depois do Natal e que vão acabar estragando se eu não fizer nada. Por que dois queijos? Porque um era pro traste, claro - já tava encomendado e eu trouxe, assim, mesmo, de raiva.

Também vou cozinhar feijão “vermelhinho” de lá com a lingüiça que meu pai empacotou cuidadosamente depois do Natal e que ficaram abandonadinhas por conta do cisma. Parte dele, claro, vai parar num potinho qualquer e entubado na melhor amiga, que, se não elogiar, vai acabar com o pouco de auto-estima que ainda me resta.

Preciso dizer: se meu pai, mineiro, não tivesse feito nada na vida, e olha que fez demais, embrulhar a lingüiça mineira como ele embrulha hoje, cuidadosamente, pro pacote chegar em segurança depois da viagem de ônibus, já teria valido a existência do rapaz, que hoje tem 84 anos e anda tão pouco feliz quanto eu - minha mãe não anda nada bem. Se bem que ele nunca foi homem de paixões e desenvolveu a estranha mania de me chamar de "aventureira".

2 comentários:

Ana Silvia Mineiro disse...

Ainda bem que vc está cumprindo a sua resolução de réveillon de não dar, não dar e não dar em 2008. Beijo na boca pode. E viu com papai do céu é tudo? Homem é que nem biscoito, vai um vêm 18. E lá vamos nós!!!

Irhia Amana Tanna disse...

Eu não podia deixar de comentar esse post... Além de estar agora matando o trabalho para ler o seu blog, me acabei de rir com esse post. Eu tb acabei o ano de 2007 pintando o cabelo ( o braço, o pescoço, o tapetinho do banheiro, etc..) Só não tive o bom amigo para me dar um beijo na boca no primeiro dia do ano...snif...