sábado, 9 de agosto de 2008

Momento viadagem-Amy Winehouse

Insone aqui, depois de ver um filminho mané no Telecine-Qualquer-Coisa, enfiei o CD da louca da Amy Winehouse. E tô ouvindo com calma, aqui, quietinha, acompanhando as músicas e as letras direito, pela primeira vez, pensando na desgraçada da vida, mais sozinha do que merecia. Eu sei, eu sei que as letras da moça não ajudam em nada. Prometo botar Vivaldi depois e, se estiver bêbada o suficiente, acho até que vou reger, com um lápis qualquer na mão, pra lembrar o que aprendi no conservatório no tempo em que eu achava que iria virar maestrina.

A questão é que só agora percebi por que, diabos, gamei na louca. Claro que o jeitão insano, em si, já foi me cativando, admito. Mas a questão é que essa moleca, além de ter uma voz com um timbre comparável às grandes, embora as letras sejam absolutamente rock and roll, completamente surtadas, tem uma porra dum talento pra cantar no contratempo, entre as notas, que é surreal. Me lembra Elis, me lembra Sinatra, assim, de pronto, em algumas gravações deles.

Antes que os puristas tenham uma síncope e tenham ímpetos de me enfiar a mão na fuça pela comparação, explico: falo apenas de ritmo, falo apenas de como alguns seres humanos invertem e subvertem a porra toda e, por isso, brilham, agradando o povo todo, sem que o povo todo se dê conta. Muitos cantores, se a gente for acompanhar, batendo o pezinho, a voz deles segue direitinho as batidinhas no chão, facinho, igual a quem declama poema, ritmado. Essa mané canta num ritmo que vai seguindo no espaço entre uma batida e outra. Infernal de acompanhar, como fazia, aliás, Dona Lourdes, dona do conservatório lá em Niterói, pra me enlouquecer, do meu lado, nas provas; com aquela porra daquele metrônomo em cima do piano, quase sempre colocado, com uma precisão germânica, ao lado da miniatura do busto do Beethoven, emburradíssimo, como sempre.

Ai, acho que resolvi boa parte dos meus traumas de infância E adolescência agora.

Foi mal, aí, pelo aluguel. Foram anos e anos com Dona Lourdes batendo o pezinho, relevem, por favor, relevem.

O que me sobrou disso tudo:

Um ouvido bom pra música.
Uma noção de ritmo bacana.
Dedos ágeis. No teclado.
Uma solidão da porra, ao que parece.

Ah, sim, meu piano não coube no meu cafofo aqui e acabou doado pra filha de um primo, lá no interior de Minas, que tem um super-talento pra música e não deixa ninguém nem chegar perto do mesmo. Um dia compro um teclado qualquer e enfio aqui, empoleirado em algum canto entre minha bicicleta e o sofá novo que um dia eu compro, eu juro.

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