quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Lançamento 2: meu nome é Monteiro, Rozane Monteiro

Vinho, refrigerante, torradinhas, biscoitinhos, pratos, copos, guardanapos, tudo comprado, moças de banho tomado, meu pai já de casaco chique, chamamos o táxi pra carregar o milhão e meio de sacolas da Sendas. Tudo sob controle. Até o desembarque em frente ao Plaza Shopping.

Táxi parado na calçada em frente (é ilegal, eu sei, mas não tinha jeito, foi mal; não, eu não me orgulho), começamos a carregar as sacolas pra entrada do Plaza, onde o primo da amiga já esperava pra ajudar.

Não sei em que momento eu me confundi. Mas, quando dei por mim, as sacolas já estavam todas onde deviam estar.

- Peraí, cadê minha mochila? - gritei, toda montada, vestido fino, scarpin altíssimo pros meus padrões, lenço de seda fazendo as vezes de cachecol, sobretudo bacana, me referindo à mochila com a roupa e o sapato que eu usava antes de me fantasiar de escritora, além de toda a minha maquiagem e o xale iraniano que dei pra minha mãe, quando voltei de Teerã, e que peguei de volta depois que ela morreu.

Olho a minha volta, meu pai e minha prima catatônicos - o primo da amiga já tinha partido pra dentro da Siciliano com as primeiras sacolas. Ato contínuo, sem que eles falassem "essa boca é minha", eu olhei pro outro lado da rua, nada de táxi. Nem pensei. Arranquei, teatral, os scarpins dos pés, jogando um de cada vez, dramaticamente, na calçada, e saí em desabalada carreira pela rua do shopping.

- Você não vai conseguir - disse meu pai, voz embargada.
- Puta que o pariu - resumiu minha doce prima.

Eu sei que vocês vão achar que eu tô de sacanagem, mas fato é que corri igual à 99 (a fofa do Agente 86), chique paaaaaaaaaaaca, cachinhos ao vento, e acabei dando de cara com o tal da táxi, paradinho perto da próxima esquina porque o fofo do motorista parou pra falar com um conhecido.

Na verdade, só fui perceber que era o mesmo depois que pulei na frente do táxi e perguntei ao motorista, de novo, dramática, "foi você que trouxe a gente?". "Fui eu, sim", disse o fofo, apavorado, já saindo do carro, tentando entender por que tinha uma louca pulando na frente do carro dele.

Foi isso.

Ah, sim, a cena final da sequencia foi esta autora caminhando de volta pro shopping, descalça, de meia fina, mochila no ombro, olímpica, devagar, quase em câmera lenta, um certo ar cruel de quem sabe o que quer, pensando que não custava nada ter um diretor de Hollywood ali pra ver que a estrela aqui nem precisa de dublê pras cenas de ação.

E a meia nem furou, tá?

2 comentários:

mirtes disse...

rozane,
tem coisas que só acontecem com você... (rs)

ROZANE MONTEIRO disse...

cara, já cansei de repetir aqui o que um amigo sempre me disse: meu anjo da guarda foi roteirista de sitcom americana.