terça-feira, 13 de abril de 2010

"Bolsa 'ao vivo' tem desconto?": a saga de uma jornalista pra comprar uma bolsa grandona e a corja do telecheque

Zefa aqui na faxina semanal do home office, fiquei sem teto, larguei o cafofo e fui pra rua, disposta a comprar um raio duma bolsa nova que me permitisse enfiar absolutamente tudo o que preciso carregar (laptop, 200 blocos, BlackBerry, cigarro, carteira gorda, contrato, relatórios, material pras duas reuniões que teria amanhã - uma, não a do contrato, acabou adiada). Entrei em lojinhas, vi preços, me apaixonei por uma pasta megafashion de couro carésima, amarelei e segui viagem.

Finalmente, entrei numa loja onde achei, se não a bolsa mais linda do mundo, a mais prática. O preço era meio salgado, mas poderia ser dividido em entrada ridícula + dois checões bacanas. Entubei, fiquei contando história de empreendedora descolada pras meninas, toda, toda, feliz da vida por ter encontrado o que eu queria.

Aí, a história dos cheques tinha que ter uma consulta à central de financiamento dos caras. A mocinha ligou, a central pediu pra "cliente" entrar em contato. Fiquei tensa, achando que meu CPF ainda não valia mais nada, resquício de anos difíceis na minha modesta biografia, longa história.

Depois de horas de gravação na fuça da mocinha, finalmente, os caras atenderam, ela me passou o telefone, e um ser quase humano falou com esta empreendedora. Desnecessário dizer que a loja inteira já me olhava com cara de "ih-olha-lá-a-louca-caloteira-querendo-financiar-a-bolsa-nova". As aspas são ouro puro:

- Senhooooooooooooora (precisava?), não identificamos nenhuma restrição ao seu CPF, mas precisamos do envio de documentação para a nossa caixa postal.

- Olha só, se vocês não têm nenhuma restrição ao meu CPF, por que eu preciso passar por esse constrangimento em público? Eu não quero comprar uma casa, é só uma bolsa.

- Senhooooooooooooora, não identificamos nenhuma restrição ao seu CPF, mas precisamos do envio de documentação para a nossa caixa postal - é impressionante como eles repetem a ladainha como se não tivesse um ser do outro lado da linha com sangue nas veias.

- Eu preciso de uma bolsa pruma reunião importante amanhã. Quanto tempo vai levar isso?

- Senhooooooooooooora, os documentos precisam estar sendo mandados pra nossa caixa postal...

- Então, cancela tudo, não quero mais financiar esta bolsa... - e por aí foi.

Mas eu juro que não falei nenhum palavrão. Fui suuuperfina (= escrota), o que, pros meus padrões, é imensamente pior. Admito que a minha capacidade de infernizar a vida de um ser humano com um monte de palavra difícil, com voz empostadinha, é algo que eu sei que precisava, sei lá, trabalhar em análise.

E saí, babando de ódio, sem bolsa nova, praguejando contra o cartazinho da loja, fofo, que dizia: "Seu cheque é benvindo (essa coisa perdeu o hífen? Já não sei mais) aqui".

Agora, raiva quase abrandando, chego a ficar com pena das mocinhas que me atenderam, superfofas, completamente inocentes e constrangidas com o babado todo. Quase, quase, mesmo, paguei a bolsa à vista, mas a raiva era tanta, que precisei, eu juro que precisei da saída teatral da loja, consumidora indignada, humilhada, esculhambada.

Foi isso, resumindo, foi isso.

Não, não me orgulho. E acho, mesmo, que vou acabar voltando lá amanhã pra comprar o raio da bolsa à vista.

Ah, sim, a propósito, ando tão enlouquecida, que, em algum momento, perguntei, antes da confusão do cheque, se a bolsa tinha desconto "ao vivo". As meninas, já sabedoras do meu ofício de jornalista, entenderam a maluquice, riram muito e me olharam com cara de "tadinha, tão descompensada".

E quem quiser que conte outra.

10 comentários:

bernardo parreiras disse...

Tiro no pé total voltar na loja!
Mesmo que seja para mostrar que pode comprar "ao vivo" a porra da bolsa...

mirtes disse...

eu tb compraria a bolsa "ao vivo" e ainda exigiria desconto

Anônimo disse...

oi, vem aqui no centro do rio e compra na feirinha com cartao de crédito e tudo mais. As bolsas são lindas. Um abraço, Luciana

Beatriz Fontes disse...

Compra "ao vivo" em outro lugar e manda essa loja à merda.

Ah! Bem-vindo não perdeu o hífen, não. Nenhuma palavra composta com prefixo bem-, aliás. Lojinha de quinta mesmo. Sai fora.

ROZANE MONTEIRO disse...

valeu, meu povo, valeu, mas hoje, já resolvi. conto lá no próximo post.

ROZANE MONTEIRO disse...

brigada, Mirtes, mas eu juro que buzinei no ouvido da galera, dizendo que merecia desconto por conta do micão involuntário. "desculpe, mas a loja não trabalha com desconto. seu eu der, tenho que pagar do meu bolso", me disse uma fofa.

ROZANE MONTEIRO disse...

bem-vinda, Beatriz. :)

monica disse...

Se não foi o pessoal da loja que tentou 'humilhar', então não faz sentido voltar pra mostrar que pode, lermbra Julia Roberts retornado à loja toda ensacolada?
Há poucos meses uma vendedora me disse que seria difícil de encontrar o que procurava pois o meu teto era muito limitado. Ela falou pra me deixar sem graça e o que aconteceu é que não voltei mais à loja.

ROZANE MONTEIRO disse...

tem razão, Mônica. não foi o povo da loja. quanto a sua louca, ô, povo sem noção, meu Deus.

da Julia Roberts, não lembro, não. foi em Pretty Woman?

monica disse...

Foi em Pretty Woman sim.