segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Traste brasileira no coração de Manhattan, seus dois namorados americanos e a cartomante de Nova Orleans


Reflexão pra cá, reflexão pra lá, lembrei de um momento absolutamente traste meu em Nova York, com um pobre dum cozinheiro americano. Resolvi contar, mas vou logo avisando que, como sou eu que mando aqui nesse barraco, fico automaticamente inelegível pra escolha do casal Traste dos Trastes. Cumpra-se. :)

Aos fatos, pois:

Houve um tempo em que eu piscava o olho, desembarcava em Nova York. A foto aí de cima tem quase 13 anos (toda mofadinha já, coitada), e foi tirada por mim a bordo de um helicóptero pra turistas, completamente apaixonada pela cidade. Torres gêmeas bonitonas, Empire State ao pôr-do-sol, só faltou o King Kong. Foi a primeira de quase umas 10 idas àquela terra.

Numa outra vez, em 1999, acabei conhecendo um cozinheiro ("personal chef", o bichinho esclarecia) num boteco do Village. Não dei logo, mas gamei. E fiquei na ponte aérea Rio de Janeiro-Nova York por um bom tempo. O manezinho chegou a vir ao Brasil. Chegou num certo 8 de setembro de 2001.

Dias depois, foi acordado por mim, com toda a calma do mundo, CNN já ligada: "Babe, teve um acidente de avião horroroso lá em Nova York; bateu numa das torres gêmeas." O resto da história todo mundo já sabe, e eu entrei de vez pra biografia do homem: ele tinha uns bicos no World Trade Center e poderia estar lá no dia do ataque. Passei o dia segurando na mãozinha dele, o pobre em choque, sem conseguir falar com a família e amigos porque os telefones tavam congestionados. Nem e-mail funcionava.

Aliás, passei o dia com ele, mais ou menos. Tive que ficar umas horas fora pra resolver um pepino no banco e pegar o dinheiro das minhas férias, já que o combinado é que eu iria pra Nova York com ele – acabei conseguindo, no meio do caos, e até mandei matéria de lá prum jornal do Rio uma semana depois dos ataques. Foi nesse tempo em que ficou sozinho que o bichinho quase enlouqueceu, desesperado, trancado dentro da minha casa. Um sujeito parou na minha rua com um megafone pra anunciar os ovos e queijos que vendia, e nosso herói, que não fala português, quase sai, segundo seu relato, com a mão na cabeça, certo de que era o FBI atrás dele. É judeu descendente de poloneses, mas com uma absurda cara de árabe branco.

Mas o que importa, mesmo, é que em 2002 ganhei uma bolsa pra jornalistas estrangeiros que me permitiu viajar por mais de 10 estados americanos em quatro meses. O combinado: como nós dois fazemos aniversário em setembro, ele passaria o aniversário dele em Washington comigo; e o meu seria com ele em Nova York. Casava direitinho com a programação da bolsa.

Pois é. Só que no meio do caminho conheci um louro de quase dois metros, celebridade na luta pelos direitos dos índios, único homem branco na hierarquia de uma tribo de Minnesota (na verdade, era uma cidadezinha no meio do nada, fundada pelos Ojibwe), e que, virava e mexia, brigava com remanescentes da Ku Klux Klan - "Rozane, eles hoje não queimam mais ninguém, mas são advogados, políticos..., ainda estão por aí", explicava.

Um milhão de grãos de milho da beira do Mississippi pra quem adivinhar o que aconteceu. Na boa, o cara cantou uma música tradicional que faz referência à cultura indígena americana à beira do raio do rio, olhando no meu olhinho: eu ti-nha que dar, foi quase uma obrigação histórica pelos ianques de bem daquele país.

Enfim, claro que me apaixonei, claro que ele também se apaixonou e claro que quis passar meu aniversário comigo em Washington, o que me obrigou a ir enrolando meu "personal chef" preferido, dizendo que não sabia mais se estaria em Washington e tal. Ele ficou tristinho, mas entubou, um tantico desconfiado.

De Nova York, não consegui escapar. É aí que começa minha trastice em estado puro. O pobre homem, depois de passar anos me tratando como uma ficante dos trópicos, me aparece no hotel com um buquê de rosas vermelhas. Não satisfeito, me levou pra jantar num dos restaurantes mais caros de Nova York – esqueci o nome agora, mas era um daqueles badaladérrimos, point de celebridade. Gastou uma pequena fortuna.

Tem mais. Depois me levou num bar super-gracinha e me apresentou como namorada, mesmo, pro barman amigo, prum outro casal, etc, etc, etc. Ele só não contava com a presença, no fundo do bar, de uma cartomante de Nova Orleans, mulher negra enorme, linda, enfiada num vestido vermelhíssimo. Desnecessário dizer que baixei na mesa da mulher, ela abriu o jogo e viu logo "um homem branco, grande, com muita paixão".

Não que precise ser cartomante num país de brancos pra concluir que uma gringa sul-americana morena desbocada, inglês fluente, iria acabar cativando um desses exemplares. A questão é que o rapaz das flores era baixinho e gorduchinho, anos-luz distante do príncipe citado pela moça das cartas, e eu já tava meio bêbada. Saí como quem acabara de ver a luz e despachei o pobre homem sem dó. A cena final foi, depois de ele não se conformar e exigir explicações, nós dois no meio da rua, eu, aos berros: "It’s over! It’s over!" ("Acabou! Acabou!").

Foi assim.

P.S.: Ah, sim, a história com o "homem branco grande" naturalizado índio durou mais ou menos um ano. Ele chegou a vir ao Brasil, mas a distância acabou com a gente.

22 comentários:

Irhia Amana Tanna disse...

Êta mulher poderosa!!!!!!

ROZANE MONTEIRO disse...

ãrrã, ãrrã, ãrrã

Anônimo disse...

Será que para cada trastice que a gente apronta, papai do céu manda uma para gente só para sacanear?

Uau...

Anônimo disse...

pois é rozane, a cartomante só esqueceu de lhe avisar sobre a lei do karma. e a anos depois ...

ROZANE MONTEIRO disse...

pois é, a cartomante devia estar bêbada também. aliás, Juliana, acho que concordo com tu, sim.

Talita Braga disse...

Quando crescer, quero ser igual a vc, ó inspiradora! rs

Até qdo se ferra vc é incrível!
Beijocas

ROZANE MONTEIRO disse...

bondade sua, cara talita, bondade sua! :)

Anônimo disse...

Oi, vc tem de escrever com certeza um livro sobre as estorias ( ou melhor memoria), pq sera um beststeller! Um abraco, Luciana

Luluzinha CS disse...

Como dizia uma sábia tia:
"Filha, a única certeza da vida é que um dia a gente é traste e em outros dias, a gente está atrás de traste."
Nunca tinha entendido isso até sofrer minha primeira grande decepção e lembrar na hora de um fulaninho que dizia pra mim:
"Você não sabe como sofro, porque nunca gostou de ninguém".
Parecia profecia!

ROZANE MONTEIRO disse...

é o raio da lei do karma, luluzinha!

ROZANE MONTEIRO disse...

mirtes, explica aí, direito, a tal da lei do karma!!!!!! ah, sim, hoje uma amiga bêbada, fumando minha cigarrilha, me disse que sou filha de Iemanjá. e não de Iansã, como já tinham me dito. confusa total. alguma explicação plausível pra confusão? é... não... acho que não. fui.

Dois cigarros e um café. disse...

Eu faria algo parecido... agora namo-ficante-amante-vibrador longe não dá certo. Nunca pontofinal hehehehe.

Aí I need de sua ajuda, vc anda sempre pelas bandas (não sei se vc mora lá ou aí) sabe me informar que dia que tem uma feira bárbara de livros ali na praça do Largo do Maschado???

Beijundas

ROZANE MONTEIRO disse...

concordo, namorao à distância é uma imensa bobagem. quanto à feira de livros aqui no Largo do Machado, cara, não é fixa, não. é uma feira de livros que roda a cidade. esteve recentemente, não sei se tem previsão pra próxima.

Dois cigarros e um café. disse...

Ahhh eu como sempre deesatualizada sobre essas coisas! Entonce a feira é itinerante, num sabia mesmo... é que no dia que eu fui eu tava sem um puto, pena que essa feira nunca vai parar no suburbio onde moro hehehehe.

O que tem de melhor aí é a tapioca da dona doida da praça.

Beijundas moça e muito obrigado :)

ROZANE MONTEIRO disse...

que tapioca, meu Deus? olha que eu vivo vagando por aqui.

Anônimo disse...

E VC AINDA ESQUECEU DE CONTAR QUE QUASE MATOU O GATO, DESSE POBRE COITADO NEW YORKER.... TU É MESMO UM TRASTE, HEIN. HAHAHAHAHAH

ROZANE MONTEIRO disse...

SPANKY!!!!!!!!!!!!! é verdade!!!!

Dois cigarros e um café. disse...

A Tapioca da mulher com cara de doida, é uma loura, fica ali pertim daquelas "casinhas que vendem flor" (puts tomara que ela não seja sua parenta heheheh) é uma delícia e contem apenas 54389745 calorias!

ROZANE MONTEIRO disse...

cara, juro que não sei quem é. com relação às calorias, há de ter a versão light com apenas 54389740

Dois cigarros e um café. disse...

Meninaaa!!! Ela fica perto de um carro (que serve de "estoque") acho que é uma parati branca, porém para que não tenha mais dúvidas de onde ela se aloja vou tirar uma foto da próxima vez que for lá comprar a tapioca.
Se eu soubesse dessa informação do light eu não teria engordado esse último kg.

Humpf.

=]

Unknown disse...

Alguém me explica COMO os comentários deste post começaram em Nova York e acabaram na tapioca do Largo do Machado???!!!Qual é a conexão?????!!!!!!!Depois a culpa é da coitada da cartomante de Nova Orleans...q aliás, devia ser muito boa porque já tinha se mandado de lá com alguns anos de antecedência!hehehe

ROZANE MONTEIRO disse...

Alice, como diria Walt Disney, "it's a small world, after all". e como diria Moacyr Franco "esse riso é agonia"! :)