Já falei que ando pensando demais, crente que existo. Noves fora zero, a cabeça voltou a Niterói, eu, aos 9 anos, ditadura comendo solta, lá pelos idos de 1975. Por que eu lembrei imediatamente que a dita tava por perto? Porque uma vez fui a mentora intelectual de uma versão sacana do Hino Nacional, cantada por mim e minha galera, de fuça pra bandeira que eu sonhava um dia hastear no colégio; claro que fui descoberta; e a professora trancou esta terrorista e sua célula subversiva numa sala e nos obrigou a escrever umas 100 vezes no quadro: "Não devo desrespeitar o Hino Nacional". Não avisou à mãe de ninguém, as pobres quase infartaram quando a Kombi da escola chegou sem nóis de tarde, e deu um rolo enorme.
Mas o que realmente importa é que lembrei do Gustavo. Nove anos também. Olhinho puxado. Cabelo lisinho, lisinho, castanho claro, que, em contraste com meus cachinhos escuros, me viraram a cabeça. E eu virei tanto a cabecinha pro trastezinho júnior, que a vida foi seguindo e acabei conquistando o fofo. A certa altura, o baby-bofe vivia de correr pra perto da minha célula terrorista no recreio, me tascar um beijo na bochecha e sair correndo.
Eu não gozava ainda, é fato. Mas hoje sei que o tanto que meu coração batia no beijo roubado equivale a um daqueles orgasmaralhaços, múltiplos. Ah, sim, também foi em Gustavo que dei meu primeiro beijo na boca. Bitoca, estalinho, sei lá mais que nome tem. Atrás do auditório da escola. Num tempo em que eu ainda nem sabia que precisava de língua pra beijar.
Ele: Cê sabe dar beijo na boca?
Eu: Claro.
E, antes da tal da bitoca, estalinho ou sei lá, fizemos um bico daqueles de menina passando batom, roubado da mãe, pela primeira vez.
Tudo lindo. Até que o melhor amigo dele, Eduardo, que, por sua vez, era meu melhor amigo, se apaixonou por mim. Tempo foi passando; Gustavo foi me deixando com cara de mané no recreio, crente que ia levar beijo pra mostrar à célula que eu era a líder; Eduardo foi me pegando no pé, me irritando; e eu fui ficando confusa.
Um belo dia, último daquele ano, Gustavo me chamou pra "trás do auditório", senha, segundo eu mesma, pra beijo na boca sem língua.
- Te chamei aqui porque o Eduardo me pediu pra te perguntar se você quer namorar com ele.
- Não, eu quero namorar com você.
- Mas eu não quero namorar com você.
Pano rápido.
P.S.: Só agora, escrevendo isso aqui, é que lembrei o que fiz pra dar meu jeito de não enlouquecer, desgraçada que me achava ser antes de completar a primeira década no planeta: arrumei um diário e escrevi o verão inteiro.
P.S.1: Nem sei o que dizer nesse outro P.S.
quarta-feira, 26 de março de 2008
Cresceu na mão, tô correndo
Intão, como diriam os paulistas, uma gente que mora no meu coração... Muito já falei desta alma que sofre, deste coração que não bate, apanha, aqui. Só não falei a coitada da verdade absoluta: o bicho cresceu na mão, tô correndo.
É assim, ó. Andei deprimindo, deprimindo de tanta dureza e tanto projeto que resulta em tiro nos dois pés, fiquei relendo este raio deste blog. Aí, fui me apavorando com a minha capacidade de rasgar a alma em público no início do ano. Pra piorar, motivo do blog já enterrado em bom passado, tô em cima do prazo de fazer isso tudo virar livro. Resultado? Um milhão de coroas tchecas pra quem adivinhar: deu um medão, que abotoei o cérebro, não consigo tocar nem o blog, nem o livro, e, de quebra, inda emputeci meu público querido e amargo uma culpa cristã de enlouquecer.
Ah, sim, falei que não consigo manter a adiadíssima dieta por mais de 15 minutos? Pois é.
Pronto. Desabafei.
E voltei. Eu, o Roberto e o cachorro que sorri latindo.
P.S.: Quanto ao youtubão aí em cima, tenho a seguinte teoria: se é pra ser brega, tem que ser brega de jeito. Essa pérola é um autêntico calouro-exportação do Raul Gil, cantando "O Portão", aquela do "eu voltei, agora pra ficar", etc, etc, etc, homenagem a um enrugadíssimo Erasmo Carlos, que acompanha o mané sacudindo a cabeça. Sei lá, achei que fazia o maior sentido nesse abril, que ainda não chegou e que, por isso mesmo, vai demorar a acabar - como esse ano, que, como sabemos, não acaba nunca.
É assim, ó. Andei deprimindo, deprimindo de tanta dureza e tanto projeto que resulta em tiro nos dois pés, fiquei relendo este raio deste blog. Aí, fui me apavorando com a minha capacidade de rasgar a alma em público no início do ano. Pra piorar, motivo do blog já enterrado em bom passado, tô em cima do prazo de fazer isso tudo virar livro. Resultado? Um milhão de coroas tchecas pra quem adivinhar: deu um medão, que abotoei o cérebro, não consigo tocar nem o blog, nem o livro, e, de quebra, inda emputeci meu público querido e amargo uma culpa cristã de enlouquecer.
Ah, sim, falei que não consigo manter a adiadíssima dieta por mais de 15 minutos? Pois é.
Pronto. Desabafei.
E voltei. Eu, o Roberto e o cachorro que sorri latindo.
P.S.: Quanto ao youtubão aí em cima, tenho a seguinte teoria: se é pra ser brega, tem que ser brega de jeito. Essa pérola é um autêntico calouro-exportação do Raul Gil, cantando "O Portão", aquela do "eu voltei, agora pra ficar", etc, etc, etc, homenagem a um enrugadíssimo Erasmo Carlos, que acompanha o mané sacudindo a cabeça. Sei lá, achei que fazia o maior sentido nesse abril, que ainda não chegou e que, por isso mesmo, vai demorar a acabar - como esse ano, que, como sabemos, não acaba nunca.
segunda-feira, 10 de março de 2008
A Rodoviária de Minas sem o Rei
Segundão. 5h14. De volta de uma viagem infernal a Minas, com o mundo familiar me lembrando como sou desgraçada e derrotada por estar tão dura, sem emprego, etc, etc, etc. Primeira ida depois do Natal, nem o Rei, nem La Pitanga, nem Gil deram as caras na TV do boteco da Rodoviária. Mau humor republicano.
quarta-feira, 5 de março de 2008
O plantão do Sua Excelência... informa:
Vaca Loura (Blond Bitch, no idioma dos mané), ao que parece, diz a vendida da CNN, ganhou em Ohio e no Texas. Saco. Bem dei um tapa na mesa agora, que me torceu o raio do pulso. Era pra ser só um tapinha, assim, de protesto, cenográfico. Errei na mão, literalmente, e a pata direita agora dói.
Quero meus óculos fashion a-go-ra. Eu sei que a eleição americana não tem rigorosamente nada a ver com minha rotina aqui no Largo do Machado, mas vamo combinar que é imensamente mais fácil de lidar que minhas ziquiziras históricas, especialmente as do início deste ano que não acaba. (*)
Mau humor industrial.
(*) Uma vez falei isso pro analista que despachei, por absoluto medo das fichas que tavam caindo, ano passado. Resumindo, falei que jornalista é bicho que é capaz de resolver o processo de paz no Oriente Médio, mas que não dá conta do imbróglio familiar mais banal. "Amor, hoje eu quero dormir cedo porque, olha só, o Bush deu apoio à Colômbia, aqueles escrotos. Babe, o Bush só tá arrumando motivo pra sacanear o palhaço do Chávez... Sério... Também, os caras dão mole...", dito assim, na cama, de ladinho, bracinho dobrado sob a cabeça, achando que o interlocutor tá interessadésimo no destino do raio da América do Sul.
Enfim, ele, o terapeuta, achou uma abordagem suuuper-cabível, eu fiquei orgulhosa do meu cérebro brilhante e corri o mais rápido que pude dele, claro, certa de que quem cai na minha conversa não é merecedor de atenção. Pronto, falei.
Pois é.
Lembrei disso agora, enquanto a minha vida despenca, o preço do ovo na Sendas me assusta e me faz optar pelas embalagens pobrinhas, ando trocando filé de salmão por filé de merluza e fico aqui preocupadaça com o mala do Obama.
Por que, meu Deus, por quê?
Quero meus óculos fashion a-go-ra. Eu sei que a eleição americana não tem rigorosamente nada a ver com minha rotina aqui no Largo do Machado, mas vamo combinar que é imensamente mais fácil de lidar que minhas ziquiziras históricas, especialmente as do início deste ano que não acaba. (*)
Mau humor industrial.
(*) Uma vez falei isso pro analista que despachei, por absoluto medo das fichas que tavam caindo, ano passado. Resumindo, falei que jornalista é bicho que é capaz de resolver o processo de paz no Oriente Médio, mas que não dá conta do imbróglio familiar mais banal. "Amor, hoje eu quero dormir cedo porque, olha só, o Bush deu apoio à Colômbia, aqueles escrotos. Babe, o Bush só tá arrumando motivo pra sacanear o palhaço do Chávez... Sério... Também, os caras dão mole...", dito assim, na cama, de ladinho, bracinho dobrado sob a cabeça, achando que o interlocutor tá interessadésimo no destino do raio da América do Sul.
Enfim, ele, o terapeuta, achou uma abordagem suuuper-cabível, eu fiquei orgulhosa do meu cérebro brilhante e corri o mais rápido que pude dele, claro, certa de que quem cai na minha conversa não é merecedor de atenção. Pronto, falei.
Pois é.
Lembrei disso agora, enquanto a minha vida despenca, o preço do ovo na Sendas me assusta e me faz optar pelas embalagens pobrinhas, ando trocando filé de salmão por filé de merluza e fico aqui preocupadaça com o mala do Obama.
Por que, meu Deus, por quê?
terça-feira, 4 de março de 2008
E o raio do Réveillon Fora de Época? Aberto à votação. Enquanto isso, vou aqui vivendo de enrolar meus queridos Caixa, Itaú e Mastercard
Tá bão, tá bão, tá bão, eu sei, eu sei que fui eu que enrolei. Mas, como diz uma amiga minha, esse barraco tem regulamento. Vamo votar aê qual o melhor dia pra esse raio de Réveillon Fora de Época, que tá entrando março, e eu continuo danada com esse 2008.
Como se nada mais faltasse me acontecer antes da Semana Santa desse ano esquisito, hoje, depois de enrolar décadas (pois é, tenho essa mania) fingindo que não preciso de óculos, sucumbi à total cegueira que tem me assolado nesses tempos de blog, livro, revisão e tradução de textos. Baixei oftalmo outro dia e adentrei uma ótica hoje, a Donc, aqui perto do, adivinhem?, Largo do Machado. Resultado: uns óculos suuuuuuper-fashion e menos 360 reais no bolso. Isso porque pechinchei o quanto pude com o moço da loja e saí toda orgulhosa depois de encomendar meu brinquedinho todo muderno, que há de me ajudar a fazer charme no Jô quando isso aqui virar livro.
Mas o que me parte, mesmo, o coração é pensar nos coitadinhos do Itaú e da Mastercard: mais um mês sem ver meu dinheiro. Aun (com beicinho). Ah, sim, e tadinha também da moça da Caixa, que outro dia me ligou ameaçando encerrar minha conta só-por-que meu cheque especial, já estourado, tava mega-hiper-blaster-explodido em 40 reaus. "Ameaçando", assim, no maior carinho, juro. Foi super-fofa quando eu falei "olha só, eu sei que 40 reais não é nada, mas vamos economizar o meu e o seu tempo: não tenho dinheiro, simples assim". Acho até que ela embargou a voz quando falou "não, não, 40 reais é muito dinheiro". Ok, os cínicos vão achar que a traste tava era debochando, e que me esculhambou pra turma dela no banco no instante em que desligou o telefone. Mas ando precisando voltar a acreditar na humanidade, caguei. Ih, lembrei, a jovem do Itaú também foi um amorzinho quando repeti a mesma ladainha. Uma gente muito gente, tá?
Quem não é gente é a turma da Mastercard. Mas ainda num tô preparada pra falar dessa relação. É uma gente fria, treinadinha, sem sangue nas veias e sem coração, diria até canalh... Não, não vou cair na tentação. Pieguice não está na minha lista de defeitos - se alguém aí discordar, enfio a mão, que num tô boa hoje, ainda chafurdando aqui sem óculos fashion, que ainda num tá pronto.
Como se nada mais faltasse me acontecer antes da Semana Santa desse ano esquisito, hoje, depois de enrolar décadas (pois é, tenho essa mania) fingindo que não preciso de óculos, sucumbi à total cegueira que tem me assolado nesses tempos de blog, livro, revisão e tradução de textos. Baixei oftalmo outro dia e adentrei uma ótica hoje, a Donc, aqui perto do, adivinhem?, Largo do Machado. Resultado: uns óculos suuuuuuper-fashion e menos 360 reais no bolso. Isso porque pechinchei o quanto pude com o moço da loja e saí toda orgulhosa depois de encomendar meu brinquedinho todo muderno, que há de me ajudar a fazer charme no Jô quando isso aqui virar livro.
Mas o que me parte, mesmo, o coração é pensar nos coitadinhos do Itaú e da Mastercard: mais um mês sem ver meu dinheiro. Aun (com beicinho). Ah, sim, e tadinha também da moça da Caixa, que outro dia me ligou ameaçando encerrar minha conta só-por-que meu cheque especial, já estourado, tava mega-hiper-blaster-explodido em 40 reaus. "Ameaçando", assim, no maior carinho, juro. Foi super-fofa quando eu falei "olha só, eu sei que 40 reais não é nada, mas vamos economizar o meu e o seu tempo: não tenho dinheiro, simples assim". Acho até que ela embargou a voz quando falou "não, não, 40 reais é muito dinheiro". Ok, os cínicos vão achar que a traste tava era debochando, e que me esculhambou pra turma dela no banco no instante em que desligou o telefone. Mas ando precisando voltar a acreditar na humanidade, caguei. Ih, lembrei, a jovem do Itaú também foi um amorzinho quando repeti a mesma ladainha. Uma gente muito gente, tá?
Quem não é gente é a turma da Mastercard. Mas ainda num tô preparada pra falar dessa relação. É uma gente fria, treinadinha, sem sangue nas veias e sem coração, diria até canalh... Não, não vou cair na tentação. Pieguice não está na minha lista de defeitos - se alguém aí discordar, enfio a mão, que num tô boa hoje, ainda chafurdando aqui sem óculos fashion, que ainda num tá pronto.
segunda-feira, 3 de março de 2008
Tá, tá, eu devo admitir: foi me dando uma certa paúra de ficar remoendo essa dor de corno por muito mais tempo. Aí, fui ali e voltei e percebi que se passaram dois meses, a vida já deu voltas espetaculares, o estrago feito na virada do ano já tá é quase curado e acabei descobrindo que só tem uma coisa pior do que ver o coração frito no xinxim: ficar dura que nem um coco, contando os tostões até o fim do mês. Noves fora, zero, o mau humor foi tomando proporções industriais e fiquei foi chafurdando em silêncio. Fui uma ingrata, foi mal.
Como se não bastasse ter enjoado de encarnar o tatu triste, recebi a cabocla Dura, Dura e Meia e me mandei pra Casa & Video outro dia. Saí com um MP3, comprado em 157 vezes no que me sobrou do cartão, só de raiva, e, depois de testar com a música que eles mandam de brinde, agora não paro de escutar “Like a Virgin”, da Madonna, ser que sempre desprezei, mas que agora tá fazendo todo o sentido na minha biografia. Num tô nada bem.
P.S.: Alguém avisa aí pra moça do Itaú parar de ficar ligando pra cobrar a parcela da dívida do cheque especial, não vai rolar nem tão cedo. Já, inclusive, avisei, mas ela ou não acreditou ou morre de saudade de mim, me catando toda semana.
P.S.1: Na boa, acho que, se eu morrer hoje, o Itaú e a Mastercard abrem falência, inda convocam coletiva pra lamentar a perda daquela que foi sua maior devedora.
P.S.2: Quando esse blog virar livro, vou ter que vender uns 389 mil exemplares pra dar paz ao povo do Itaú e da Mastercard, coitados.
Como se não bastasse ter enjoado de encarnar o tatu triste, recebi a cabocla Dura, Dura e Meia e me mandei pra Casa & Video outro dia. Saí com um MP3, comprado em 157 vezes no que me sobrou do cartão, só de raiva, e, depois de testar com a música que eles mandam de brinde, agora não paro de escutar “Like a Virgin”, da Madonna, ser que sempre desprezei, mas que agora tá fazendo todo o sentido na minha biografia. Num tô nada bem.
P.S.: Alguém avisa aí pra moça do Itaú parar de ficar ligando pra cobrar a parcela da dívida do cheque especial, não vai rolar nem tão cedo. Já, inclusive, avisei, mas ela ou não acreditou ou morre de saudade de mim, me catando toda semana.
P.S.1: Na boa, acho que, se eu morrer hoje, o Itaú e a Mastercard abrem falência, inda convocam coletiva pra lamentar a perda daquela que foi sua maior devedora.
P.S.2: Quando esse blog virar livro, vou ter que vender uns 389 mil exemplares pra dar paz ao povo do Itaú e da Mastercard, coitados.
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